Fora a história que não é lá tão interessante assim, a estética e composição dos quadros são maravilhosos. Diversas mensagens sendo transmitidas por meio de cores, mudanças de cena e silêncios.
A condução das cenas e a montagem elevam a narrativa a outro grau, mostrando como nosso subconsciente reflete escolhas do cotidiano. A arte nos revela, expõe, julga.
Evocação estética primorosa, Animais Noturnos é um thriller que brinca genialmente com a narrativa tripla de passado, presente e ficção, construindo um filme dentro do filme sobre fracassos emocionais. Uma das maiores vinganças filmadas.
Há, por trás da bagunça narrativa, uma forte história sobre decisões, culpa e vingança. Ford, porém, erra a mão para contá-la, dispensando muito tempo à ficção paralela cuja ligação com o cerne do filme soa forçosa e, assim, tirando impacto do desfecho.
Tem suas gratuidades e afetações, mas a pegada pulp extrapola o núcleo do livro e meio que se estende à 'realidade', atenuando sobremaneira o tom de autoimportância e as implicações da visão de mundo fatalista de Ford, que afundaram A Single Man.
Algumas boas sequências (primeira cena do livro) e o bom time de atores dão algum gás para um filme com roteiro e montagem problemáticos. Ford não lida bem com o material que tem em mãos e o resultado é mais insípido do que deveria. Que final horrível!