Há quase um ano que O Hobbit: Uma Jornada Inesperada chegou aos cinemas de todo mundo, e ao mesmo tempo em que saciou a vontade alucinada dos fãs da obra escrita por J.R.R. Tolkien de voltar a ver a Terra Média nas telonas o filme também trouxe consigo uma decepção (pequena para alguns, imensa para outros) completamente inesperada. Esse desapontamento era causado principalmente pelos cento e setenta minutos arrastados e com pouco ritmo. O que não significa que o longa não tinha seus acertos: Além de desenvolver Gollum em todos os sentidos – deixando-o ainda mais humano e real do que a criatura vista na trilogia do Anel, que já era praticamente perfeita - Peter Jackson aproveitou ao máximo a nostalgia de estar revisitando o universo dez anos depois. De uma forma ou de outra, O Hobbit: A Desolação de Smaug é um filme um pouco melhor que seu antecessor pelo simples fato de corrigir a maioria dos problemas de Uma Jornada Inesperada, o que não significa que o filme não tenha suas próprias imperfeições.
Apesar de A Desolação de Smaug ter início á partir de onde o longa anterior parou – com Bilbo, Gandalf e os anões continuando sua jornada até a (tão, tão distante) Montanha Solitária – fica fácil notar que a decisão inicial do diretor de dividir o livro em dois filmes e não em três interferiu, especialmente, esta segunda produção: Enquanto a primeira metade se mantém fiel aos diálogos e caminhadas intermináveis de Uma Jornada Inesperada (e não é atoa que a cena dos barris chega perto de soar como um clímax), a segunda se mostra bem mais ágil, frenética e eficiente. Portanto, se você for ao cinema esperando um filme lento – como eu –, acabará se surpreendendo positivamente: A Desolação de Smaug pode ser descrito como um longa tão (ou até mais) dinâmico e ágil quanto os três O Senhor dos Anéis. Peter Jackson filme cenas de ação absolutamente espetaculares, que mesmo complexas nunca deixam o espectador confuso ou perdido, e até mesmo aqueles momentos que se estendem mais do que deveriam são divertidíssimos, com a, já citada, fuga dentro dos barris que é bem maior do que o ideal, mas impressiona e diverte até a última flecha.
E se por um lado Smaug melhora muito o ritmo (tão criticado no primeiro filme), por outro acaba não escapando do “mal de segundos filmes de trilogias” simplesmente por não ter início ou fim (e sinceramente, estava esperando ouvir On the next episode of “The Hobbit” durante os créditos finais), portanto não espere resoluções para nenhum dos conflitos apresentados aqui, todos eles só serão resolvidos daqui um ano, o que não deixa de ser um bocado decepcionante, principalmente porque As Duas Torres conseguiu contornar esses problemas, se tornando um filme sólido independente de seu antecessor ou sucessor. Ainda assim, o grande problema de A Desolação de Smaug está em seu enredo: Mesmo sendo interminável, Uma Jornada Inesperada tinha trama bem definida e desenvolvida, afinal além de apresentar os objetivos e motivações dos anões, o roteiro desenvolvia as ideologias e características do personagem título perante os outros e a si mesmo. Este segundo filme, em contrapartida, é bem menor e mais vazio; é claro que ele é necessário para prepara as peças para o terceiro episódio, ainda que essa preparação poderia ter sido feita no final do primeiro e no início do terceiro. Além disso, Peter Jackson não se conteve e deixou no corte final cenas completamente descartáveis que seriam melhor aproveitadas dentro de uma versão estendida lançada em home vídeo.
Por outro lado, O Hobbit: A Desolação de Smaug tem um elenco bem mais confortável e eficiente do que aquele visto anteriormente: Enquanto a maioria dos anões continua como plano de fundo, Richard Armitage faz de Thorin um personagem mais marcante e complexo com seus próprios conflitos e desafios internos, que remetem as indecisões de Aragorn vistas em O Senhor dos Anéis; e enquanto Orlando Bloom não faz muita diferença com seu Legolas, Evangeline Lilly se torna uma das grandes surpresas do filme, afinal, além de ser a única personagem feminina dentro de uma história povoada somente por seres do sexo masculino, Tauriel encanta com seu olhar extremamente humano sob aqueles que precisam de sua ajuda. É uma pena, portanto, que a personagem seja inserida numa espécie de “triângulo amoroso da terra média” envolvendo Legolas e o charmoso anão Kili – e mais uma vez: se o conflito tem alguma relevância, só saberemos no próximo capítulo.
E se Martin Freeman fica ainda melhor como Bilbo Bolseiro (o que eu, particularmente, achava impossível) e Ian McKellen mantém o carisma de Gandalf, o grande destaque vai para Benedict Cumberbatch que apenas com sua voz e expressões faz de Smaug um vilão opressor e ameaçador, além de ser beneficiado, é claro, pelos efeitos especiais perfeitos (qualquer outro adjetivo aqui não encaixaria tão bem quanto este), e consequentemente o dragão Smaug consegue ultrapassar Gollum no sentido de detalhes e realismo nas expressões. Porém, se Peter Jackson usa os efeitos para construir um vilão incrivelmente palpável, o mesmo não pode ser dito de alguns cenários que quebram a beleza da produção pelo uso excessivo de CGI. Beleza essa, aliás, que se mostra presente durante toda a projeção, desde a sequência envolvendo as aranhas até o clímax, passando por um dos momentos mais lindos e marcantes de toda a franquia (esse em questão, envolve Gandalf e certo antagonista muito familiar).
Prejudicado por um clímax, que mesmo bastante divertido e empolgante, não vai para lugar nenhum, A Desolação de Smaug é, no geral, uma experiência mais agradável e menos aborrecida que seu antecessor, mas ainda assim tem sua parcela de problemas que se resumem a falta de um desfecho mesmo que parcial. No final, temos que esperar por Lá e de Volta Outra Vez para ter certeza absoluta que Peter Jackson acertou em adaptar O Hobbit em três filmes, afinal o que importa preparar bem as peças se o jogo em si for decepcionante?
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