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Críticas

Dogville

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Resolvi assistir a Dogville pela ótima crítica alcançada aqui no próprio cineplayers. E de fato essa produção é fantástica, muito sutil em suas críticas e ironias desferidas contra, não somente, aos E.U. A (ao jeito americano de viver), mas também ao capitalismo de um modo geral e ao próprio ser humano. Como mencionou algum participante aqui do site (não me lembro quem) Dogville está aberta a várias interpretações. Realmente está; assim como toda obra literária (refiro-me às de qualidade) está suscetível a variadas construções de sentidos. No entanto, é válido lembrar que o texto (nesse caso o filme) literário é uma janela aberta pela qual se podem vislumbrar várias paisagens, porém ele não é uma janela escancarada. Explico-me. Dogville é sim passível a várias interpretações, mas não a qualquer interpretação. Digo isso justamente pela possibilidade de compreender essa produção, mesmo sem saber do caráter antiamericano do seu diretor Lars Von Trier bem como ao período histórico ao qual Dogville faz mencão: E.U. A, pós-depressão de 1929.

De início, Dogville já se mostra bastante diferente das produções cinematográficas tradicionais. Ela é essencialmente teatral. Não há um cenário propriamente dito, todo o desenrolar da narrativa é destrançado sobre um grande palco no qual existem apenas desenhos que representam as casas da cidadezinha de Dogville e alguns objetos como mesa, cama e cadeira. Cabe ao espectador imaginar as construções e as paisagens com o narrar da produção. Assistir a Dogville é como ler um livro e projetar, imaginativamente, as paisagens, ruas, becos e casas narradas em cada página.

O filme começa com a narração de John Hurt que nos avisa que a história constará de um prólogo e será dividido em nove capítulos. O tom que Hurt imprime à sua narrativa é algo fenomenal no filme e faz de sua atuação, mesmo não aparecendo, importante peça para a composição de Dogville.

Grace (Kidman) chega à pequena Dogville fugida de gângsteres que a persegue. Logo é acolhida por Tom (Paul Bettany) o qual manifesta grande interesse por Grace. No entanto, para Grace ser aceita e acolhida em Dogville é necessário que se faça uma consulta a todos os moradores (o que é perfeitamente possível uma vez que a cidade tem em torno de 20 habitantes mais as crianças) e somente alcançando maioria dos votos Grace poderá permanecer refugiada em Dogville. Após a votação, a permanência de Grace é aceita em troca de pequenos serviços que ela deverá prestar aos moradores de Dogville. Inicialmente a bela fugitiva acha justo essa condição e passa a procurar afazeres para ajudar os moradores de Dogville, que, a princípio, não encontram muita coisa para Grace fazer.

Com o desenrolar da trama, que é muito bem construída e possui uma excelente gradação, os afazeres de Grace vão aumentando, e se antes não havia o que fazer, a certo momento do filme há tantas tarefas que Grace praticamente nem dorme e se desdobra em mil para dar conta de olhar os filhos de Vera (Patrícia Clarkson), ajudar na colheita de maças, cuidar da filha de deficiente de uma das moradoras, ajudar na lojinha da cidade dentre tantos outros afazeres. Todas essas tarefas são executadas sem receber salário (o que ocorrerá mais tarde).

Nesse momento do filme é interessante fazer uma interlocução entre o sistema capitalista e a exploração a que Grace passa sofrer por parte dos moradores de Dogville. Só como exemplo de ligamento a que propus, menciono um dos pilares do marketing, que é o de criar necessidades, e isso é muito bem abordado em Dogville em uma cena na qual a própria Grace diz que para um lugar que não havia tantas necessidades ela está trabalhando muito. Como um dos pontos fortes do filme são diálogos bem montados e impactantes, esse certamente faz parte desse conjunto de estratégias que, simultaneamente, critica, ironiza e age cinicamente frente ao capitalismo.

Outro ponto marcante nessa produção são os estupros sofridos por Grace. Estes assumem não somente o significado literal e strictu do verbo estuprar, mas uma significação múltipla, pois Grace (e nós) somos diariamente estuprados por esse sistema capitalista no qual estamos inseridos ao ponto de não conseguirmos conceber outro sistema de organização sociofinanceira.

Dogville também aborda o homem enquanto ser individual, regado por desejos e vontades vastas e variadas e como ele faz de tudo para alcançar o seu objetivo sem se preocupar com o próximo. Ironicamente, o único que não abusa de Grace é próprio Tom, o qual ela afirmava amar e vice-versa. Mas esse detalhe é ínfimo se comparado ao desfecho de Dogville que assume um tom macabro e super irreverente. Vejo até um tom religioso cristão nos diálogos finais entre Grace e seu pai, aliás uma ironização ao discurso cristão no que tange à misericórdia divina em relação ao homem. Vemos, inicialmente, Grace pedindo a seu pai para ter misericórdia daquela gente (o mesmo que Jesus Cristo pediu a Deus quanto fora crucificado), mas logo em seguida, somos arrebatados por um final impressionante como uma resposta à pergunta: Misericórdia para que? O homem é ruim por natureza, já teve muitas chances para se tornar um ser bom e não merece mais nenhum fio de misericórdia.

Finalmente, a última cena do filme vem fazer uma comparação entre o homem e um cão, ou melhor, ela coloca homem e cão em patamares distintos, pois o cão Moises é posto acima do homem a partir do momento que se torna o único ser digno de misericórdia na pequena Dogville. Penso também que Dogville é uma metonímia de nossa sociedade, pois a produção toma uma amostragem do todo (a sociedade) para poder representá-la de maneira nua e crua, mostrando como o homem pode estar abaixo de um cão sarnento que briga por um osso descarnado. Em suma, Dogville é uma representação do chamado mundo cão onde vivemos dia após dia.

Críticas

Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Levando-se em consideração os filmes antecessores, este até que tem bastante coisas boas. Apesar de que ainda acho os dois primeiros legais, perto dos outros três que achei adaptações pra lá de péssimas. Mas bem, na sexta parte, muito ainda foi sacrificado com certeza, mas parece que houve um cuidado maior com detalhes importantes da história.

Tudo continua muito acelerado, mesmo o filme sendo longo. Mas os crimes continuam. Excessivas partes querendo mostrar o afloramento dos hormônios das personagens chegam a irritar. No livro tem essas passagens é verdade, mas é bem mais sutil e bem mais interessantes diga-se de passagem. A magia muitas vezes é deixada de lado para impor simplesmentre a "química da situação". Harry Potter marcando encontros amorosos com um trouxa em um metrô (!?) essa foi ridícula. Primeiro que isso não existe na estória original, segundo que destoa de todo o universo criado por J.K. Rowling e terceiro que esse tempo gasto com besteira poderia ser utilizado para contar outras partes importantes ou aprimorar algumas.

As menções ao príncipe mestiço são rápidas demais e não chegam a envolver o espectador sobre a verdadeira importância de quem ser o verdadeiro príncipe mestiço e qual o verdadeiro poder deste e do livro que Harry tem em mãos, e quando se é revelado a questão, fica apenas como algo explicativo, não tendo o impacto necessário para o entendimento de todo o enredo que fará ponte com a próxima parte da história.

Claro que há muitas falhas ainda, mas estas já mais sutis do que nos filmes anteriores. Em contrapartida há a excelente direção de arte na Escola. O figurino sempre bem aproveitado, apesar de que a partir do terceiro filme instalou-se uma "modernidade excessiva" nos protagonistas. Harry Potter não é moderninho para se vestir, uma que na casa de seus tios não havia possibilidade e quando na "toca" (casa dos Weasley) não há finanças que permitiriam custear isso. De onde vem essa influência moderna não se sabe.

Uma ou outra cena clichê, como quando Harry sai da toca para perseguir Belatrix doem na alma, afinal, com tanto a se explorar precisa cair na desgraça do clichê mais batido que existe!?

Bem, mas apesar de deslizes os filme tem suas qualidades também. Direção de arte como citei acima, efeitos (obviamente) e um amadurecimento na direção, mesmo que ainda as vezes comprometido.

Outro ponto positivo é com certeza Helena Bonham Carter como Belatrix. Limplesmente lunática, perversa e descontrolada (exatamente como J.K. Rowling a consebeu). Uma das melhores atrizes em cena, que melhor vive sua personagem e dá um gás a mais para as subtramas (mesmo que as vezes pouco aproveitada).

Queria destacar as cenas na caverna que realmente são excelentes. Ali sente-se a magia de Harry Potter, o poder do bem e do mal e a sequência mais bem trabalhada e produzida de todo o filme.

Considerando um certo amadurecimento da adaptação, mesmo com alguns escorrgões aqui e ali e uma certa mutilação na composição de algumas personagens (entendível até por se transpor tanta coisa em pouco tempo, 2:30 ainda é pouco para se traduzir tudo que há na obra original) Harry Potter e o Enígma do Príncipe é a melhor das adaptações até agora, mas ainda não é algo pra ficar marcado na lembrança, talvez (embora eu acho meio difícil) a última adaptação (dividida em duas partes) possa fazer isso, mesmo que eu duvido que sequer chegue perto da magia da obra original.

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Beleza Americana

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"...é difícil ficar bravo quando há tanta beleza no mundo."

Beleza Americana é uma flor que se parece com uma rosa, só brota nos EUA, não tem espinhos e não tem cheiro, ou seja, artificial.

Uma bela família. Um pai, uma mãe, uma filha, dois carros, vizinhança pacata e uma qualidade de vida bem avaçada. Lindo não é? Olhe mais perto.

O roteiro de Alan Ball é muito caótico, mas é real em vários aspectos, Ball devia ter assistido vários filmes sobre famílias americanas, mas decidiu contrariar tudo o que era visto no cinema e criar personagens mais engraçados, irônicos, mas acima de tudo infelizes.

Lester Burnham(Kevin Spacey) é um homem que trabalha escrevendo para uma revista, mas é abusado no trabalho pelo seu chefe e possui uma família que o odeia, mas quando conhece uma amiga de sua filha(Mena Suvari), é seduzido por sua beleza. Ele decide largar o emprego e viver seu resto de vida intensamente, mas sua mudança de vida causa uma modificação naqueles que o cercam, quanto a moralidade de cada um.

A história acabou com vários roteiristas que planejavam escrever de forma clichê a caracterização dos subúrbios americanos, mas Ball além de querer acabar com roteiro clichês queria uma história com uma qualidade muito boa e também quis mostrar ao mundo inteiro a realidade da América por dentro: homofobia e infelicidade são mostradas de formas irônicas e dramáticas no maravilhoso roteiro de Alan Ball. Outra coisa interessante sobre Ball é que ele é homossexual e decidiu mostrar além da infelicidade dos americanos, como a homossexualidade é vista no subúrbios.

As atuações podem ser consideradas uma das melhores já vistas em toda a história do cinema, pois vemos as características de cada personagem e que são tão diferentes, mas que se parecem tão próximos um do outro. A atuação de Spacey foi a vencedora do Oscar de 2000 e nos mostra como um homem infeliz parte para uma mudança onde vê que uma volta por cima de uma pessoa causa muitas mudanças para os outros que estão próximos.

Uma coisa muito interessante do filme é que ninguém cita como é a vida nas cidades, a concentração nos subúrbios é tão eficaz e dedicada que nós faz esquecer existem cidades nos EUA e nos prendem só naquela realidade.

A fotografia de Conrad L. Hall é muito bonita, ele utiliza reflexos e sombras para caracterizar cada cena transmitindo os sentimentos dos personagens, cada cena está usando reflexos e sombras em situações de felicidade, aflição e até o clímax do filme fica mais interessante com o uso das técnicas cinematográficas de Hall.

Há cenas que são tão belas e poéticas que nos fazem ver que nosso mundo tem pouca emoção e que a beleza está naquilo que nós falamos que é artificial. As cenas de Ricky gravando a filha de Lester, o vídeo do saco de plástico e quando ele grava a pomba morta no chão, essa última cena passa rápido, mas percebemos que até o que está morto é cheio de vida para aqueles que podem ver que há tanta beleza no mundo.

O final do filme é muito poético, a análise de Lester sobre sua vida que passou tão rápido, mas que marcou todos aqueles que o cercavam e fez muita falta para aqueles que o achavam inútil e que se ele se fosse não iria fazer falta nenhuma.

Alan Ball quis passar para aqueles que achavam a América um lugar perfeito para se viver. Muitos acham que este é um filme que é só para os americanos, mas que na verdade é mais para o resto do mundo do que para os EUA, é um filme que é para todos que consideram os EUA um país perfeito, quanto à economia vemos que não falta nada para ninguém, mas que apesar de terem tudo eles, não possuem nada.

Olhem mais de perto, mas quem quer continuar longe?

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Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto

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“Que você esteja no paraíso meia hora antes que o diabo saiba que você está morto”

Sidney Lumet construiu uma carreira sólida em seus longos anos como cineasta e teve seu auge de meados dos anos 1970 até o início da década de 1990. A partir daí, continuou a emplacar bons filmes - talvez sem a mesma genialidade de outrora, mas sempre com qualidade indiscutível, o que marcou sua trajetória no cinema norte-americano. Acho até injusto seu nome ser pouco lembrado entre os grandes gênios da sétima arte, já que ele provou por diversas vezes ser uma grande figura, além de ser mais um daqueles renegados pela acadêmia. Nunca venceu um Oscar, embora tenha sido lembrado em quatro oportunidades – uma pena.

Mesmo sendo um senhor octogenário (Lumet completou recentemente seu 85º aniversário), ele mostra que ainda é competente o suficiente para nos entregar uma obra madura, complexa e muito bem construída. Falo aqui de "Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto" - título que à primeira vista pode até assustar pelo tamanho, embora seja excelente, muito bem escolhido e extremamente criativo.

A história, contada quase que inversamente, nos coloca logo de cara diante de um assalto a uma joalheria. Em pouco tempo somos apresentados aos personagens e descobrimos que o tal lugar assaltado era nada mais nada menos do que a loja dos pais dos criminosos. O enredo, que vai se construindo aos poucos e agregando novos elementos à trama, nos leva a uma empreitada angustiante em busca das consequências do ato de dois filhos desesperados. O mais velho (Philip Seymour Hoffman), viciado em heroína e infeliz no casamento, e o mais novo, atolado em dívidas com a ex-mulher e cheio de compromissos com a filha pequena. Vemos aqui um panôrama semelhante com "O Sonho de Cassandra", recente filme de Woody Allen; as coincidências, no entanto, param por aí.

Ao longo do trabalho podemos notar algumas particularidades que possivelmente vieram de obras mais antigas. Uma influência clara, ao meu ver, vem do clássico "Rashomon", de Akira Kurosawa. O fato de relembrar as histórias por perspectivas distintas resgata à memória o clássico japonês, assim como no mais recente "Ponto de Vista", que aborda uma narrativa bastante parecida. Aqui, o roteiro assinado por Kelly Masterson cria uma montagem nesse mesmo estilo: trabalhosa, ousada e inteligente. Lumet também pode ter trazido elementos de Quentin Tarantino, especialmente de "Cães de Aluguel" - desde como contar a história sem linearidade até a fuga de carro após tudo dar errado. Ou seja, pode-se dizer que o roteiro é pouco – ou nada – original, mas ainda assim é construído de uma maneira interessante.

Ou vai dizer que é possível assistir o longa sem aquela pontinha de ansiedade em desvendar logo o final? O clima tenso é todo caprichado, e conta com uma ajudinha especial da trilha sonora, que dá aquele toque especial nas principais horas - principalmente quando o drama esquenta. O diretor nos coloca diante de algo inusitado, tenta nos propor um julgamento moral dos personagens – afinal, há algo mais imoral e fora dos costumes do que roubar os próprios pais? Ainda que Lumet tente justificar a atitude de seus personagens (e aqui acho que ele errou), em nenhum momento sentimos pena deles, e a cada cena que vemos tudo piora, como uma grande bola de neve, uma avalanche incontrolável. O desencadeamento dos acontecimentos nos leva a um final terrível, dramático, e após subirem os créditos, lembramos de que todo ato desenrola diversas consequências – ruins ou boas -, assim como na vida real.

O drama exige muito da competência de seus atores, e acho que aqui ninguém ficou devendo. Destaco Marisa Tomei, que aos 44 anos parece estar no auge de sua forma e se especializando em papéis considerados sexys: alguém se lembra da stripper interpretada pela atriz em "O Lutador"? Pois é, quase lhe rendeu um Oscar. Aqui ela faz outra mulher bastante atraente, e vai muito bem, obrigado. Ethan Hawke, apesar de caricato em alguns momentos, também nos rende boas cenas, e no resumo da obra ele é um dos melhores do filme. Philip Seymour Hoffman é o mesmo de sempre, embora sem brilhantismos dessa vez; é um bom personagem, nada mais. Quem merece um destaque final no elenco de apoio é o veteraníssimo Albert Finney, que nos passa todo o rancor e desprezo de um pai desgostoso, incrédulo.

"Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto" é um filme complicado, que aborda temas complexos como a ganância das pessoas. Fica a mensagem de que ser excessivamente ambicioso e querer dar o passo maior do que a perna pode trazer problemas inimagináveis, e nós, reles mortais, somos provas vivas disso, afinal, quem nunca caiu do cavalo ao tentar algo maior sem ter capacidade para tal? Recomendo esse trabalho de Sidney Lumet, assim como indicaria a grande maioria de seus longas de olhos fechados.

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Harry Potter e o Enigma do Príncipe

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Após uma longa espera, Harry Potter e o Enigma do Príncipe estreia nos cinemas com muito mais a oferecer que os filmes anteriores.

Dois anos após Harry Potter e a Ordem da Fênix desembarcar nos cinemas mundiais, os fãs da série do bruxo mais famoso do mundo podem finalmente curtir o sexto filme e conferir o que se fez com o livro, agora sendo adaptado. Se nos cinco longas anteriores a decepção foi inevitável, é bom que fique bem claro que a série não se esquivou dos cortes. Muito do que estava na obra de J.K. Rowling foi ignorado, ou pelo menos empurrado para a sétima e última parte da aventura de Harry Potter. Mas para a minha surpresa, e para a de outras pessoas, as escolhas feitas pelo roteirista Steve Kloves e pelo diretor David Yates foram mais do que bem sucedidas e não afetaram a história em momento algum. Os fãs, como eu, podem até ficar um pouco decepcionados pelo corte dos que seriam os minutos finais do filme, mas se formos parar pra pensar, tudo foi acertado e cortado de forma inteligente. Este, na verdade, é um dos vários pontos do filme que evoluiram drasticamente, em relação aos trabalhos anteriores.

De fato, o longa todo é uma evolução inqualificável, e é sem sombra de dúvidas, o melhor filme da série até agora. E destaca-se o diretor David Yates, consagrando-se o melhor que já passou pelo cargo desde o lançamento do primeiro filme nos cinemas. Seu trabalho é excelente, organizando cortes, incluindo cenas inéditas, dirigindo os atores, assim como a arte deslumbrante. Yates optou por uma mudança drástica de clima em relação ao quinto filme, que também dirigiu. Apesar da atmosfera sombria, o humor está lá, com presença constante, liberando risadas nos momentos mais propícios, sem exageros e erros na edição. Aliás, para esse tom mais sombrio, Yates quis uma fotografia mais escura também, privilegiando uma mistura de preto com cinza e azul, mantendo o filme com uma aparência mais madura. Enquadramentos profundos, cores sombrias, tudo propicia um a sequência ainda melhor que as expectativas.

Entretanto não é só Bruno Delbonnel que fotografa bem 'Harry Potter e o Enigma do Príncipe', a direção de arte de Stuart Craig nunca esteve tão bela e magnífica. Com detalhes que realmente importam, o trabalho do desenhista de produção mantém-se no capricho e nas cores escuras, com um uso mais preferencial do chumbo, da madeira e do dourado, causando um contraste perfeito com a fotografia bem empregada. Jany Tamime esboça figurinos interessantes, com uma atenção ainda que especial e única a cada personagem, que contém uma característica predominante das vestimentas arrojadas. Dumbledore, por exemplo, usa sempre uma roupa extravagante, com um azul cintilante que muitas vezes pode ser confundido com o cinza. Enfim, tudo avançou em termos de produção, o que inclui também a sonoplastia e os efeitos especiais, que embora não apareçam tanto, eles não se fazem necessários, uma vez o amadurecimento da história em si, com destaque para o romance entre os personagens, ciúmes e confusões, sentimentos típicos de adolescentes vulneráveis aos hormônios.

E talvez isso seja um fator que contribua para que as crianças fãs da série se sintam decepcionadas. A magia nunca esteve tão ausente como nesse filme, com os encantamentos de sempre, o roteiro privilegia o amor e um humor mais relacionado a ele. Mais essa mudança percebe-se no próprio cotidiano dos alunos de Hogwarts, onde somente uma aula é de fato mostrado, a que Harry ganha a poção de Felix Felicis, que por sinal é extremamente divertida.

Não poderia encerrar essa análise sem comentar o grau das atuações do renomado elenco. Jim Broadbent, que interpreta de forma impagável Horácio Slughorn, transforma um personagem amedrontado pelo passado em alguém fútil e perturbado, assim como Gambom, que faz de Dumbledore um homem carismático com uma dose extra de sensibilidade. Rickman e a arrogância já conhecida de Severo Snape está ainda melhor, assim como Maggie Smith, que recebe um pouco mais de atenção que no filme anterior, tem passagens magníficas. Julie Walters em seus dois minutos impressiona com um simples olhar e até mesmo Robbie Coltraine, em uma das menores aparições de Rubeus Hagrid na série, faz o personagem com seu talento usual, ou seja, mais uma vez bem feito. O trio principal porém, tem uma evolução de se deixar de boca aberta, sem exageros. Daniel Radcliffe está muito melhor do que se poderia supor, com diálogos onde está presente a ironia e o carisma de Harry Potter, ele se sai surpreendentemente bem. Emma Watson chora com facilidade e muda de vez a impressão que Hermione Granger deixou no quinto filme (de chata e mandona),a gora fazendo uma menina apaixonada, ciumenta (no limite do cômico) e divertida. Rupert Grint trabalha com expressões faciais, mas não se assustem, não são caretas. Seu trabalho como ator também evolui drasticamente, em mais um ponto que não sei como, Yates conseguiu converter ao seu favor.

Harry Potter e o Enigma do Príncipe é o melhor de todos os filmes da série, disso não resta a menor dúvida. Com destaque para as atuações, um diretor muito menos falho e um roteiro superior, a arte mais uma vez surpreende, apesar da reciclagem feita com a trilha, onde Nicholas Hooper resgatou faixas de "Ordem da Fênix". O sexto é uma ótima sequência do fim que se aproxima, com direito a câmera ágil e cenas de humor inspiradas. Uma excelente diversão, que vale a pena ser conferida.

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Corpo que Cai, Um

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Alfred Hitchcock é muito mais do que o mestre do suspense, ele vai além, muito além, é um gênio, um mito, um dos maiores – talvez o maior – cineasta de todos os tempos. Sobram exemplos para provar sua excelência; a técnica apurada, a habilidade em criar um clima tenso mesmo com elementos simples, sem exageros. Hitchcock foi um marco da história do cinema, foi o melhor do gênero, imbatível. A música que sobe nos momentos certos, que aflige o espectador, a simplicidade evidente – muito pelo ano de seus filmes – que pode até passar por tosca numa época em que vemos efeitos especiais aos montes… mas e o conteúdo? Parafernalhas tecnológicas podem ajudar, porém, genialidade se destaca mesmo sem muitos recursos. É difícil ver um filme de suspense hoje em dia que se iguale a Hitchcock… arrisco a dizer que é quase impossível.

"Um Corpo que Cai" é considerado uma das obras-primas do diretor, pois conta com todos os elementos necessários para se criar um bom suspense. A história gira em torno de um ex-detetive da polícia que se aposentou após um acidente por consequência de sua vertigem (fobia/medo de altura) – a cena inicial em cima do telhado é uma das mais clássicas do cinema. Mesmo fora de combate, John Scottie Ferguson (James Stewart) é contratado por Gavin Elster (Tom Helmore) para vigiar sua esposa (Kim Novak), pois acredita que ela tem alguns problemas psicológicos e tendências suicidas. No entanto, o enredo sofre um revés quando os dois se apaixonam, e o que era para ser uma coisa simples se transforma numa trama bastante complexa.

Hitchcock usa muito bem a trilha sonora, que é primordial para criar a tensão entre as personagens. A habilidade em saber os momentos certos para colocar, aumentar ou diminuir a música é parte importantíssima no suspense - nem preciso dizer que ele faz isso com primor. O roteiro é amarrado, bem construído e envolvente. A cada minuto o espectador mergulha mais e mais fundo na história querendo desvendar o mistério; à princípio temos a total impressão de que o ex-detetive é paranóico, maluco, perturbado (assim como a mulher que ele está investigando). Depois, no final, tudo é desvendado com clareza, da melhor forma possível e sem deixar furos ou dúvidas para quem está assistindo. O cineasta parece brincar de detetive com o público e aos poucos vai criando um cenário cada vez mais instigante, mais complexo.

Na parte dos personagens, Hitchcock caprichou, pois os construíu e aprofundou perfeitamente. Vemos claramente o processo evolutivo do drama psicológico de Scottie Ferguson (muitíssimo bem interpretado por James Stewart) e também observamos Kim Novak excelente em seus dois papéis – especialmente no segundo, em que conseguiu ser muito convincente ao passar um misto de amor, medo e agonia. O elenco de apoio também executa seu trabalho com competência, e aqui destaco o desempenho de Barbara Bel Geddes na pele de Midge – aquela coadjuvante de extrema importância para a trama.

No final, "Um Corpo que Cai" vai além de um simples exercício de detetive por parte do espectador, é uma aula de bom cinema e de como construír um suspense psicológico e perturbador. O filme ainda mostra que a acadêmia é injusta e fazedora de média, pois o longa foi indicado somente para duas categorias secundárias no Oscar de 1959. Mas quem liga para isso, afinal? O trabalho de Hitchcock ficará marcado para sempre na história, independente de qualquer prêmio pomposo do cinema americano.

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17 Outra Vez

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O filme “17 outra vez” é mais uma comédia criada sob medida para arrecadar bilheteria, tendo como público-alvo os adolescentes... em outras palavras, é mais um filme bobo e superficial.

O ídolo teen do momento, Zac Efron, é quem protagoniza o vídeo. Ele que, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado carismático e bom dançarino, tem uma incontestável falta de talento no que diz respeito à representação. Visto que seu sucesso se dá por um único motivo: sua beleza.

Aí eu me pergunto: pra quê bom desempenho se a indústria do cinema se contenta apenas com rostinhos bonitos? Pois é... Infelizmente é verdade.

Voltando-se agora ao enredo do filme, o mesmo é nada mais que uma película batida sobre um adulto voltar a ser jovem.

E não é de hoje que temas como "regressão" e "troca de corpos" se desgastaram nas comédias. Ainda assim, isso não é impecílio para que "bombas" como esta sejam feitas aos montes pelos ianques.

Em “17 Outra vez” não é diferente. Mais uma vez, nos é mostrado alguém que está sendo afligido por algum tipo de problema, e que por intermédio de forças sobrenaturais, sofre a famigerada troca de corpos – ou, como no caso aqui, o retrocesso etário –, para que assim se possa ser identificado à raiz de sua insatisfação, tendo então, a oportunidade de se corrigir.

Ah, o que acontece, é claro, somente no desfecho, já que durante todo o filme, devido às circunstâncias, o personagem passará por diversas trapalhadas ao tentar se adaptar a nova realidade e a desvendar o porquê do acontecido.

Bom, produções desse tipo, normalmente são sem criatividade, sem contar na falta de o mínimo que seja de raciocínio lógico. E pior, contam ainda com o “auxílio” de interpretações sem graça e sem naturalidade, resultando-se assim, em mais um carbono de tantos outros vídeos que temos por aí.

Ao seguir esta linha de raciocínio, eu só posso afirmar que os mesmos artifícios usados em películas similares como em “De repente 30” e “Sexta-feira muito louca”, simplesmente não funcionam aqui.

O roteiro em si é uma apresentação de recorrentes fatos aborrecidos. Entre eles está à razão da tal troca de corpos que não é satisfatoriamente definida.

A postura de Zac como um adulto preso a um corpo adolescente, também não convence. Aliás, o comportamento de todo – eu disse todo (!) – o elenco é forçado e esquemático. Sem falar na forma improvável com que o mocinho se relaciona, e se aproxima de sua família... E não para por aí o festival de furos e clichês.

Os personagens são redundantes em tantos estereótipos. Os diálogos rasos e sem nexo. E a falta de química está "presente" em todas as cenas.

Por consequência disto, desde que eu assisti ao filme, não consigo parar de enumerar os furos que o mesmo apresenta.

Outra questão que importuna muito, é que o protagonista é uma versão masculina da aspirante à atriz Hillary Duff.

Ambos são esforçados, porém fúteis, e não conseguem manter segurança por meio da atuação, apelando assim para seus atributos físicos e para projeções que enfoquem isso.

Só espero que ele, como resultado da fama, não opte pelo típico estilo de vida dos jovens astros de Hollywood que se cansam do rótulo da “ingenuidade”, aventurando-se em papéis duvidosos, com o acompanhamento da dependência química, tipo um (a) “maucalay/Lindsay Culkin/Lohan” da vida.

O personagem central da estória, Mike, só serve de arrimo para a alta exposição de Zac Efron.

Sendo assim, o filme existe apenas para desfrutar da bem-sucedida imagem que Zac tem tido na mídia. Idéia esta que fica mais evidente graças aos passos de dança que ele protagoniza junto à brega equipe de torcida de colégio, logo no início do filme. Uma óbvia reminiscência ao folhetim “high School Musical”, sucesso que lançou Zac no mercado.

Portanto, o roteiro é nada mais que um subtexto, ou melhor, um pretexto para manter o galãzinho num vídeo com mais de uma hora de duração, visando o lucro que será angariado pelo público teen – corrigindo, pelo público feminino com menos de 12 anos.

No entanto, o único momento positivo que consegui extrair deste filme foi rever o querido Matthew Perry – o saudoso Chandler do icônico seriado “Friends”. Mesmo sendo ele mal aproveitado no papel de Mike quando adulto. Uma perda de oportunidade considerável que a equipe teve de se arrancar algumas risadas através dele.

Quanto ao ator Thomas Lennon, como melhor amigo de Mike, está bizarro! Com seu personagem totalmente inverossímil, moldado sob uma combinação de cafonice e exagero, só irrita. As cenas dele com a diretora do colégio são patéticas e constrangedoras! Com direito a mais referências do exaustivo “Star Wars” nos diálogos, e tudo o que permeia o mundo dos nerds.

Por estes tantos motivos, acredito que qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico se sentirá incomodada com “17 Outra vez”. O filme que de tão pífio, pode ser definido por um simples e trivial adjetivo: bobo.

Mas preciso frisar que o problema não é a temática jovem, ou a intenção deliberada da direção de Burr Steers em passear por um produto do cinema de massa, e sim, a falta de total originalidade, em que não há um resquício sequer de argumento coerente. Somente um mosaico repetido e simplório das situações mais artificiais.

Finalizando o comentário, o longa não me agradou. Pra mim, foi uma verdadeira perda de tempo parar para vê-lo. Por isso, não recomendo. Nem mesmo para quem se denomina fã do rapazinho com cara de boneco "Ken"...

Ah, para quem não conhece, é o namorado da Barbie.

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Proposta, A

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Está aqui um gênero que é subestimado pelos críticos e por boa parcela do público que se diz entendedor de cinema. A comédia romântica é vista com maus olhos por muita gente, mas atinge em cheio outra parcela generosa do mercado: talvez os casais apaixonados ou os românticos de carteirinha; Enfim… "A Proposta" pode ser facilmente considerado mais do mesmo, muito pelo seu roteiro óbvio ou por se ater a detalhes já batidos em qualquer longa do tipo. O trabalho da diretora Anne Fletcher tem pouca coisa inovadora - ou quase nada mesmo -, e por isso, talvez merecesse uma nota ruim, já que segue um modelo pré-estabelecido pela indústria cinematográfica. No entanto, há pontos positivos que fazem com que a trama valha a pena (vejamos no restante do texto).

A história por si só é clichê… temos a executiva bem sucedida que é ‘má’ e pisa em todos os seus funcionários – podemos associar a personagem de Sandra Bullock com a editora Miranda Priestly (Meryl Streep), de "O Diabo Veste Prada". Ao mesmo tempo, temos o subordinado (Ryan Reynolds) que é feito de capacho pela chefe e tem sua competência contestada a todo o momento. Acho que nem precisamos dizer que por algum motivo milagroso os dois se juntam e formam um casal. No início ambos se odeiam, mas com o tempo sentem que têm algo em comum. O que era ódio vira amor, num esquema bem semelhante às outras comédias românticas.

Para salvar o trabalho e o roteiro precário, contamos com um desempenho inspirado da carismática dupla de protagonistas. E como Sandra Bullock se sai bem nesse tipo de papel… na pele da durona Margaret Tate, ela nos rende as cenas mais divertidas e hilárias da trama – para mim, o filme é dela! Assim como em "Miss Simpatia", onde seu trabalho é impecável. E quem pensa que ela só leva jeito para comédia está enganado, é só lembrar do dramático "Crash – No Limite". Ryan Reynolds, por sua vez, se consolida cada vez mais como um ator de filmes ‘bobinhos’, longe disso ser um demérito, já que ele se sai muito bem nesse tipo de personagem – vale lembrar "Três Vezes Amor", por exemplo.

Além do bom trabalho do elenco em geral, podemos dizer que as piadas funcionam, temos alguns ótimos momentos e muitas sacadas inteligentes (como a da parte em que os dois se veem obrigados a deitar de conchinha). Uma pena que em determinadas passagens o filme seja escrachado demais, o que ao meu ver é o grande defeito das comédias de hoje em dia. A necessidade de fazer rir coloca a originalidade ladeira abaixo, e o que deveria ser natural acaba se tornando falso, bobo… talvez seja por isso que é cada vez mais difícil ver um bom longa desse gênero.

Por fim, ainda acho que "A Proposta" seja um filme recomendável. As qualidades superam os defeitos e as cenas impagáveis – a maioria delas vindas de Sandra Bullock - fazem com que o caro dinheiro do ingresso acabe valendo a pena. Se você procura um filme pura e simplesmente para se divertir, sem precisar pensar e refletir durante horas e horas, vá assistir, sem compromisso, sem expectativa… caso contrário, creio que é melhor ficar em casa mesmo.

www.moviefordummies.wordpress.com

Críticas

Zathura - Uma Aventura Espacial

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Zathura: Uma aventura espacial (2005) é o que podemos chamar de uma tentativa de "upgrade" do clássico Jumanji (1995), mas que infelizmente fica apenas na tentativa. Não que o longa não mereça algum crédito, especialmente pelo novo visual da aventura, mas, como um bom filme fast-food, ele só existe para saciar a sede high-tech dos produtores, mostrando cenas inéditas de uma casa que voa pelo espaço, não importando o "como" nem o "por quê" disso acontecer.

As duas histórias, baseadas nos livros do escritor Chris Van Allsburg, mostram jogos de tabuleiros mágicos, que transformam em realidade os desafios propostos aos protagonistas. A filosofia de ambos roteiros é a mesma: "Começou o jogo? Agora termine! Por que essa é a única maneira de desfazer as maluquices que as brincadeiras propõem". Brincadeiras essas que, teoricamente, podem matar.

Não li os livros e, por isso, não posso afirmar se o diretor Jon Favreau seguiu a risca a história desse segundo conto, mas caso o tenha feito, tenho a impressão de que Van Allsburg não teve muita originalidade ao recriar a fórmula de sucesso do seu antigo Jumanji. Tudo continua igualzinho lá: casa velha onde está escondido o tabuleiro e crianças insatisfeitas com pais separados. Também há o resgate de uma pessoa presa em um antigo jogo não terminado (com uma pequena diferença nessa versão, porém não muito bem explicada ao espectador).

Em Jumanji, estrelado por Robin Williams e a iniciante Kirsten Dunst (a Mary Jane do Spider-Man), os estragos realizados com o jogo não tinham limites de alcance. A cidade inteira (e por que não dizer o mundo) poderia sofrer com os desafios impostos e improváveis aos heróis, como um estouro de animais selvagens ou um dilúvio. Já em Zathura, interpretado em suma por Josh Hutcherson e o caçula Jonah Bobo, os impactos ficam restritos dentro da casa que, após apertar o botão inicial, é levada para fora da Terra, onde cometas, aliens reptilianos, robôs e astronautas farão parte desse universo. Mesmo sem a lógica de se respirar oxigênio no espaço sideral, esse cenário "mais perigoso" mostra-se uma agradável surpresa.

Mesmo com a chance de explorar melhor as lacunas deixadas em Jumanji, Allsburg se limitou em seguir a velha receita (ou seria culpa do diretor?). A exemplo do que não foi feito e que poderia ser o diferencial: o que aconteceria se um dos jogadores morresse? Como cada jogada deve rigorosamente respeitar a ordem dos participantes (primeiro um, depois o outro), como seria possível terminar o jogo e desfazer essa tragédia?

Aliás, falta de inovação não é o único problema, e sim, a falta de estruturas básicas da história. O filme começa e termina com a mesma velocidade com que as cartas são retiradas do jogo. Em Jumanji, apesar de simples, ao menos mostra-se a origem e o destino que é dado ao tabuleiro "maldito" (com uma possível brecha para uma continuação no final) e aos protagonistas. Agora em Zathura, isso não importa. O jogo simplesmente aparece do nada na casa e por lá fica. Contudo, será mesmo que isso não importa ao publico mais exigente?

Regado de reviravoltas e atores carismáticos, Jumanji era mais coerente e lógico, atraindo não só os jovens, mas os adultos também, justamente por ter mais adultos interpretando na trama. Robin Williams estava realmente perfeito e parte do sucesso da obra, foi devido ao seu carisma. Zathura pereceu de alguém assim...

O fato é que Zathura é mais infantil, o que já dá uma "esnucada" no tipo de publico ao qual se dirige: crianças. Colocar apenas atores-mirins como protagonistas de filmes nem sempre é uma boa saída, pois tira-se um pouco da sensação de veracidade as cenas. Está certo, sabemos que nunca vai existir um tabuleiro mágico, mas também não é preciso exagerar com os meninos prodígios capazes de qualquer coisa.

Um pouco mais de ousadia, aliado ao bom senso, não fariam mal a ninguém. ;)

Críticas

King Kong

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Qualquer mortal, com um mínimo de conhecimento na sétima arte, já ouviu falar sobre a história do famoso King Kong. A premissa básica da lenda é essa: macaco gigante, de origem desconhecida, conhece garota loira bonita, se apaixona (se que é podemos chamar de paixão) e acaba morrendo no alto de um prédio, após levar a donzela até lá. O grande desafio dessa nova versão é: como manter a atenção da maioria dos espectadores que já conhecem o final da história? Peter Jackson, embalou o que Cameron fez em Titanic: apostou no romance e nos sentimentos. Como estamos falando do diretor da saga dos Senhor dos Anéis, não espere nada menos que um filme de 3 horas de duração, regado de cenas em câmera lenta, focando os olhares e ações principais de cada personagem.

Parte da graça dessa nova versão, estão nos efeitos especiais, os quais são muito bem elaborados, em especial o grande Kong, que possui detalhes perfeitos nos pelos e na sua movimentação de primata. Os cenários ficaram bem elegantes e retratam desde selvas antigas até uma Nova York dos anos 30, durante o período da depressão das bolsas de valores.

Durante os longos 40 minutos iniciais, conhecemos o cineasta fracassado, Carl Denham (Jack Black), que decide fazer um filme numa ilha misteriosa, a ilha da Caveira, por conta de um mapa que ele descobre, sabe-se lá onde. Seu papel de "ganancioso egoísta" ficou perfeito, sempre bolando planos surreais, para enriquecer e ficar famoso. Antes de embarcar no navio, consegue convencer uma jovem atriz, Ann Darrow (Naomi Watts), a fazer o papel principal de um filme de romance náutico, com cenas em Cingapura (uma mentirinha como incentivo). Desempregada, morta de fome e sem rumo, a loirinha é impulsionada mais ainda a aceitar o emprego (com aventura inclusa), após saber que o dramaturgo Jack Driscoll (Adrien Brody, o narigudo horrível de O Pianista) vai roteirizar o filme. Óbvio que os dois fariam o par romântico do longa.

Esse começo Titanic, com direito a uma cena de quase-catástrofe do navio chegando no vale perdido, é interessante, porém cansativo. Por um momento, enquanto o capitão tentava "estacionar" o barcão entre os rochedos, me perguntei se estava mesmo vendo o filme do King Kong, por que o dinheiro empregado só nessa cena foi alto. Ganha de 10 em filmes só dedicados ao mar (Tormenta, por exemplo).

Se o começo enrolado, apresentando os personagens, e o final sem suspense, com a morte inevitável do macacão, não empolgam tanto, o miolo do filme, rodado na selva, vale a produção inteira. A diversão inicia-se ao chegar na ilha! Os personagens são jogados na pior experiência de suas vidas. Ao adentrar nesse lugar, são recebidos por nativos nada amistosos, que capturam a Ann e a oferecem como sacrifício vivo, ao Torê Kong, apelido que eles deram ao King Kong. A tribo, apesar de assustadora, é só a ponta do iceberg, do que a selva reserva de sustos para a patrulha que parte em resgate da moça. Dinossauros, aranhas, formigas e insetos gigantes, abrem um universo fenomenal, nunca antes explorado dignamente com o Rei Gorila.

Tenho a impressão de que Peter Jackson queria jogar na cara do Spilberg, como se deve fazer filmes com dinossauros. Jurassic Park, foi realmente um ótimo longa, mas suas continuações não agradaram, e King Kong, mostra o que muita gente queria na saga do Jurassic, ver dinos sendo estraçalhados por balas e morrendo sem dó. Só correr de velociraptors é divertido, mas enjoa. O famoso Kong nos presenteia com umas das cenas mais bacanas dos cinema nos últimos anos, onde luta com 3 Tiranossauros Rex ao mesmo tempo. Além disso, temos a chance de ver os herbívoros morrendo também, com os Alossauros caindo num abismo fenomenal. E como se os dinos não bastassem, ainda veremos os viajantes caindo dentro de um verdadeiro formigueiro. Cenas não recomendadas para crianças!

Depois de muito corre-corre e marmeladas aceitáveis - afinal se você já comprou a idéia de existir tal ilha, também vai aceitar o fato dos heróis se salvarem dela - o diretor de filme Carl, tem a "infame" idéia de nocautear o gorilão e leva-lo junto até a cidade para ganhar uma graninha (relembrando Jurassic Park 2). Como ponto negativo, não veremos como eles levam amarrado o Kong, dentro do barco, o qual por sinal já nem saia direito do lugar por conta do peso. Depois de serem obrigados a jogar quase tudo fora, com exceção das batatas, eles decidem levar esse monte de toneladas abordo? Vai entender...

De volta a Nova York, o macaco vira atração de teatro e como de praxe, ele consegue escapar para destruir a cidade, coisa que Stay Puf (Caça-Fantasmas), Godzila e os monstros dos Power Ranges, estão acostumados a fazer. Não há muita novidade nesse tipo de perseguição desenfreada do primata.

A seguir, o filme já não tem mais tanta emoção, pois como já dito, sabemos precipitadamente o destino infeliz que o gigantão terá. O interesse que nos motiva, é ver o Kong brincando com a estrela principal, afinal ele aprendeu a gostar da moça. Não sabemos se é um amor de irmão ou sexual, mas o fato é, ele a ama, e ela também. Prefiro acreditar em um amor como de um animal de estimação (e nesse caso, a menina que era o seu mascote). Para enfocar o sentimentalismo do bicho, grande parte das cenas são apresentadas no formato de "closes" no rosto do gorila. Você quase chega a chorar com tamanho realismo.

Para finalizar, a cena final onde o King sobe o edifício de Manhattan, para fugir do exército que quer matá-lo, mostra uma perspectiva diferente desse épico. A cena é rodada durante o crepúsculo, o que nos dá um colorido muito bonito para a cena, lembrando os prédios de Homem-Aranha. Nas versões antigas, o ápice rolava durante a noite, e acredito que era para facilitar os orçamentos dos efeitos especiais do Gorila. Mas convenhamos, Jackson não precisava poupar verba nisso ;)

Esse novo King Kong resgatou o que há muito tempo eu não sentia no cinema: emoção e sustos sinceros. Não vi a obra original, então não posso avaliar o quanto foi modificado. Só sei que Jackson conseguiu garantir a perpetuação da lenda desse macaco por muito mais décadas a frente.

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