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Críticas

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

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Em mais uma parceria bem sucedida ao lado de Johnny Depp, o diretor Tim Burton dirige o seu melhor filme e um dos melhores de 2007.

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet já serviria de alerta para aqueles que não costumam gostar de filmes banhados à sangue. Não que a história de Benjamin Barker e sua doce vingança já não fosse conhecida pelos americanos, muito pelo contrário. Muito antes mesmo de virar peça da Broadway, a história do vingativo barbeiro ja havia se tornado longa metragem quase cinquenta anos antes, em 1926, novamente em 1928, 1936 e 1970. Aí sim esse pequeno grande sucesso fora passado em sua versão mais popular na Broadway, em badalada estreia de 1979. Perigoso? Sim, mas coragem nunca faltou ao determinado diretor Tim Burton. Antes de finalizar essa mais nova adaptação para o cinema de 'Sweeney Todd', outras três versões foram postas em prática e exibidas diretamente na televisão, em datas de 1982, 1998 e mais recente, em 2006. Fico feliz em dizer que não houve adaptação melhor do que essa a que estou criticando.

Abusando da volta triunfal dos musicais no início do século XXI, Burton usa desse mesmo estilo para recontar a estória do barbeiro londrino Benjamin Barker, que vivia feliz ao lado de sua família até que um cruel juíz acusou-o de um crime que não cometeu. Barker foi expulso de Londres, mas 15 anos depois ele volta sob o nome de Sweeney Todd, desejando vingança. Quando está de volta na cidade, ele reencontra uma antiga conhecida, a quituteira Sra.Lovett. Juntos, eles tramam um modo de vingança. Com a ajuda dela, ele monta a sua barbearia em cima de sua loja de tortas, em seu estado terminal. Em cima, ele mataria os seus clientes usando a sua navalha e enviaria os cadáveres para Lovett preparar a partir dos restos mortais das pessoas, "deliciosas" tortas que virariam a sensação do momento em Londres.

Tim Burton: Assustador e independente

Nada como um diretor de estilo demoníaco para dirigir um filme, que como o próprio título já diz, demoníaco. Burton sempre foi um diretor de estilo único, usando de técnicas sombrias e tons negros e tristes como cenários de seus filmes. Foi assim que ele fez com Os Fantasmas sem Divertem, com Edward Mãos de Tesoura, um de seus maiores clássicos, Ed Wood e dos mais recentes A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, a animação A Noiva Cadáver e seu mais último sucesso A Fantástica Fábrica de Chocolate. É interessante notar que grande parte, pelos menos a grande maioria dos filmes de Burton, ele trabalhou com Johnny Depp. Ao todo, foram mais de seis trabalhos que contamos com a parceria dessa industivelmente uma das mais famosas duplas de todos os tempos. Burton também trabalhou cinco vezes com Helena Bonham Carter, outra figurinha repetida e preferida atriz do diretor. Como era de se imaginar, visando os trabalhos anteriores de Burton, esse também tem o toque sombrio do diretor, com marcas típicas de seus gostos únicos e diferenciados. Todas essas características transformaram o diretor em uma figura assustadora, de talento indiscutível, porém demasiadamente sem nexo, o que faz com que várias pessoas se tornem seus fãs, e que outras passassem a odiá-lo.

Johnny Depp: The Demon Barber of Fleet Street

De uns tempos pra cá, Johnny Depp tem se destacado na indústria cinematográfica com papeis que lhe garantiram sucesso eterno. Ou então, como vamos nos esquecer do personagem que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar, o lendário Jack Sparrow? Ou de seu trabalho mais ousado em Em Busca da Terra do Nunca, onde ele interpretou Sr. James Matthew Barrie, um autor de teatro escocês, criador da história de Peter Pan. Por esse papel, Depp recebeu sua segunda indicação. Mas não foram só de indicações ao Oscar ou a quaisquer outros prêmios internacionais que Depp conquistou a fama. Suas escolhas sempre foram para cada vez ele aperfeiçoar mais o seu talento, como um homem que tem tesouras no lugar das mãos, ou como o pior diretor de todos os tempos, seja como Willy Wonka ou como o famoso Dennie Brasco. Talvez nenhum desses papeis lhe garantiu maior prestígio internacional como ator do que 'Sweeney Todd'. Em poucos filmes Depp trabalhou "de cara limpa", ou seja, sem o peso da maquiagem sobre o seu rosto. Neste não seria diferente. Como um verdadeiro e real barbeiro demoníaco, Depp está brilhante e assustador na mesma proporção. Seus olhares amedrontadores e frios, sua pose amargurado e sua voz rouca e vingativa como seu próprio personagem. A primeira vitória no Globo de Ouro e a sua terceira indicação ao Oscar foram mais do que merecidas.

The Worst Pies in London

"A customer!

Wait! What's yer rush? What's yer hurry?

You gave me such a--

Fright. I thought you was a ghost.

Half a minute, can'tcher?

Sit! Sit ye down!

Sit!

All I meant is that I

Haven't seen a customer for weeks.

Did you come here for a pie, sir?"

Até ela admite. Sra. Lovett, interpretada por uma maravilhosa Helena Bonham Carter é a dona de uma loja de tortas no coração de Londres. Como ela mesma diz no filme, ou melhor, canta, suas tortas são consideradas as piores de Londres. A quituteira possui um visual tão sombrio quanto o lugar onde ela trabalha. Um lugar que beira à imundice, com pó, insetos mortos, que acompanham as vestimentas da proprietária com aproximadamente os mesmos aspectos. Mais uma vez, ou melhor pela quinta vez, Helena Bonham Carter participa de um filme de Tim Burton. Como boa atriz que ela é, sua atuação não fica muito atrás da de Johnny Depp. Usando de olhares tão sombrios quanto, mas com tons esparançosos, a sua personagem é uma mistura de frieza, indiferença, mas muito esperta. Ela, apesar de ser uma pequena grande incógnita durante boa parte do filme, possui o cotidiano típico de uma mulher solitária e fracassada na vida, embora encare seus pesares da forma mais otimista possível.

Visual magnífico: Encantadoramente assustador

A marca registrada dos filmes de Tim Burton é justamente, como já foi dito, o seu visual sombrio. Para falar do departamento artístico, é preciso um parágrafo inteiro. De início, não seria novidade reconhecer o trabalho espetacular que Dante Ferretti produziu com seus cenários derradeiros de luxo, por mais sujos e acabados que aparentassem, negros e frios, uma vez que o Oscar de Direção de Arte já está aí pra provar. Quem brilha atrás das câmeras também é o departamento de maquiagem. Um trabalho verdadeiramente maravilhoso deixou Johnny Depp irreconhecível, ajudou a fazer dos personagens com características pálidas e tristes. Os figurinos espetaculares de Colleen Atwood, também indicados ao Oscar fazem uma reprodução de época ainda melhor. Vestimentas empoeiradas, típicas de um show, com cores que beiram ao preto, vermelho-sangue e cinza. Talvez seja esse, ao lado de Desejo e Reparação, o melhor trabalho técnico de 2007, onde tudo se encaixa de maneira excepcional à história e ao clima que ela apresenta.

O roteiro e suas canções

Para espectadores de pouca paciência, esse Sweeney Todd pode parecer uma chatice sem fim, com suas músicas e mais músicas, onde absolutamente cada cena vira um motivo pra cantorias. Tudo bem que a voz de Depp e Bonham Carter juntos, além de coadjuvantes soam muito bem para os ouvidos, eles não desafinam em instante nenhum. Surpreendentemente, constatamos um trabalho magnífico da equipe de mixagem de som, que sempre beira à perfeição em musicais de alto escalão, como os inesquecíveis e recentes Moulin Rouge - Amor em Vermelho, Chicago e Ray. A história é muito bem desenvolvida, uma vez que o roteiro prende o espectador e é muito bem sucedido nesse aspecto, mas alguns excessos de melancolia em algumas partes poderiam ter sido evitados tanto pela narrativa quanto pelas canções. Em um musical, geralmente espera-se númeors grandiosos e divertidos ou até mesmo uma simbólica homenagem, mas neste caso vemos um musical com o intuito de assustar, e em alguns casos chega até mesmo a divertir com pitadas suaves de humor negro. Enfim, o roteirista John Logan faz um trabalho, onde alguns excessos aqui outros alí poderiam ter sido evitados.

Em relação às canções, algumas são realmente divertidas e bem escritas, outras já não tão boas assim. Stephen Sondheim faz o que pode para divertir o espectador com canções que ficam no lugar dos diálogos, que resumem cenas e que contam a história o mais rápido que podem. Talvez uma das melhores seja My Friends a qual Johnny Depp interpreta em referência às suas "amigas/navalhas", ou até mesmo a assustadora porém engraçada A Little Priest onde Todd e Lovett cantam a sua nova idéia de negócio, ou a canção de saudade e tristeza de Sweeney Todd, No place Like London, ou quem sabe The Contest, canção da divertida cena da "batalha" entre os dois barbeiros.

Os coadjuvantes e seus personagens marcantes

Embora todas as atenções se virem para a dupla principal de Johnny Depp e Helena Bonham Carter, os coadjuvantes da história também se destacam pela excelência na cantoria e na maioria dos casos, na atuação também. É o caso do ótimo Sacha Baron Cohen, que se livrou temporariamente do rótulo de "Borat" e passou, nem que fosse por alguns instantes, a ser considerado mais um ator de talento, porém um talento que virá a ser confirmado em futuros projetos. Ele interpreta astutamente Signor Adolfo Pirelli, considerado antes da volta de Benjamin Barker/Sweeney Todd, o melhor barbeiro de Londres. Outro ator que se destaca é Alan Rickman (pra não conhece, Severo Snape de Harry Potter). Ele atua como o juíz Turpin, que expulsara Barker de Londres, a fim de ficar com sua bela esposa e criar a sua filha. No entanto, tudo indica que a mulher morreu e a filha fica presa em seu quarto, observando a rua pela janela, em meio a várias cantorias. Anthony Hope (Jamie Campbell Bower) é um conhecido de Benjamin e um marinheiro, que um dia passava em frente à moradia do juís e observa a bela Johanna sentada na janela. Logo ele se apaixona e trama modos de como tirá-la daquele quarto. Quem também faz uma ponta no filme é Timothy Spall, que também participa da série do bruxinho Potter como Rabicho. Ele faz Beadle Bamford, um comparsa do juís Turpin e mais uma vez, está transformado pela maquiagem caprichada.

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet é de longe o melhor trabalho de Tim Burton, excelentemente interpretado, e de visual arrebatador. É mais um eficiente musical deste século, e se você é fã do gênero, não pode perder.

Críticas

WALL·E

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Às vezes, somos pegos de surpresa por filmes que transbordam qualidades. A Pixar possui uma coleção de animações incríveis: Toy Story, Os Incríveis, Monstros S.A, Procurando Nemo, Ratatouille... E recentemente, uma nova obra foi criada, e dessa vez a Pixar se superou. Falo de Wall-E, uma animação maravilhosa e tocante.

Dirigido por Andrew Stanton, Wall-E passa-se aproximadamente há 700 anos no futuro, onde o planeta Terra tornou-se um lugar inabitável devido a enorme quantidade de lixo. Foram feitos robôs programados para "limpar" o planeta, enquanto que os humanos passaram a viver preguiçosamente em um grande cruzeiro espacial. Na Terra, porém, os robôs pifaram, e aparentemente sobrou apenas Wall-E, um robozinho simpático e que começou a desenvolver características humanas, como a solidão e a curiosidade. Porém, a sua "vida" muda drasticamente quando uma nave pousa na Terra com uma robozinha chamada Eva, que veio com a missão de encontrar alguma possibilidade de vida no planeta. Wall-E então fará de tudo para não perdê-la.

Esta primeira parte inteira é praticamente muda. As únicas falas que os robôs conseguem pronunciar com suas vozes metálicas são seus nomes. O resto são expressões e atitudes. Encatadoras, diga-se de passagem. Uma coisa interessante em Wall-E é que eles conseguem "atuar" melhor do que um punhado de atores norte-americanos, com simples gestos e expressões.

O filme não é apenas uma animação com o intuito de entreter os telespectadores, como certas que andaram aparecendo por aí recentemente. A diversão em Wall-E fica em plano de fundo, uma vez que o seu riquíssimo roteiro explora diversos assuntos, como o amor, a solidão, o sedentarismo e a preservação ecológica.

Depois que Eva conseguiu uma amostra de vida no planeta Terra (que, por sinal, foi Wall-E que lhe apresentou), ela deve partir de volta para o cruzeiro espacial com os humanos. Wall-E, por sua vez, não quer de jeito nenhum perder sua única companhia, e agarra-se na nave de Eva, a seguindo até o cruzeiro. Lá, finalmente aparecem pessoas. Pessoas mais sedentárias que nunca. No cruzeiro, a tecnologia e os robôs passaram a conviver e proporcionar mordomia para os humanos. Mordomia até de mais. Sendo que agora eles têm tudo sob o controle de máquinas, não é mais necessário fazer exercícios e nem qualquer coisa que exija trabalhos físicos, resultando em humanos obesos, lerdos e incapacitados.

Nesta nave, continuamos com a jornada dos dois robôs Eva e Wall-E. A estas alturas, já estamos apaixonados pelo casal. Seus atos são cativantes, e para isso não foram necessárias palavras. Os simples gestos e movimentos e as mudanças de expressão nos "olhos" de Eva e Wall-E bastaram para entendermos os "sentimentos" daqueles dois robozinhos, criando um lado sentimental nestas máquinas, e conseguindo nos convencer muito mais do que vários atores e atrizes reais espalhados por Hollywood.

A qualidade inegável audiovisual do filme contribuiu para que resultasse em uma obra tão maravilhosa. Para que não houvessem tantas cenas silenciosas e sem diálogo, foram aplicados os sons e ruídos característicos de robôs. Certo, isto é óbvio e necessário, pois todos os robôs tem aqueles ruídos metálicos. Porém, em Wall-E, a qualidade é inegável. Seus sons em total sincronia, e em alguns momentos nem percebemos que os robozinhos não falam. Suas atitudes falam por si só.

Wall-E, porém, estava com um nível de genialidade tão alto nas cenas no planeta Terra deserto que parecia deixar de ser unicamente um filme infantil. Mas uma hora deveriam dirigir-se para as crianças, certo? E esta hora foi a parte no espaço, no cruzeiro espacial dos humanos. Lá o filme focou um pouco mais a diversão e as crianças.

Mesmo assim, temos cenas maravilhosas no espaço e ainda geniais. Destaque para o momento em que Wall-E e Eva fazem uma espécie de "dança" no espaço, uma vez que a gravidade está ausente; tocante e bonita. É impossível ficar indiferente diante de tal parte. Entendemos perfeitamente os "sentimentos" do casal.

Há também homenagens durante o filme, e a mais óbvia é a de 2001: Uma Odisséia no Espaço, com o comandante da nave.

A cena final é incrível como o filme todo, e há a possibilidade de escorrerem algumas lágrimas dos telespectadores.

Portanto, dizer que Wall-E é a melhor animação e uma das melhores obras de 2008 é pleonasmo. Fica claro para quem assiste que é um filme digno do posto de uma das melhores animações em 3D dos últimos tempos. Talvez, até a melhor. Porque não? Foi indicado merecidamente ao Oscar em 6 categorias: Filme de Animação,Som,Roteiro Original, Edição de Som, Trilha Sonora e Canção Original. Wall-E é mais do que bom. É perfeito e não unicamente dirigido para as crianças, mas para qualquer idade. Um filme que certamente irá ser imortalizado e tornar-se mais um dos clássicos da Disney.

PS.: Não percam o curta hilário "Presto" nos bônus do DVD.

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Poderoso Chefão, O

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Com apenas 33 anos anos de idade e pouca experiência no ramo, o jovem diretor Francis Ford Coppola seria o responsável por uma das obras mais conhecidas e completas do cinema, a clássica trilogia de O Poderoso Chefão, que facilmente pode ser considerada uma das melhores, ou senão a melhor trilogia da história da sétima arte, levando-se em consideração que é um dos meus filmes favoritos, e com isso me sinto bem confortável para falar dessa obra-prima.

Baseado na obra de Mario Puzo, a trama se inicia com a apresentação dos Corleone, uma tradicional e poderosa família Italiana da Sicília, onde Don Vito Corleone (Marlon Brando) é o chefe, o que controla todos os negócios e assuntos pessoais da família, um homem admirado, poderoso e cheio de aliados. Ele está preparando seu filho, Sonny Corleone (James Caan), para a sua sucessão, o deixando a par dos negócios da família, ao mesmo tempo Sonny entra em contraste com seu irmão Michael Corleone (Al Pacino), um herói da Segunda Guerra Mundial, recém-chegado na casa dos pais e vivendo normalmente como um civil.

Logo no início da trama percebemos o poder e o status da família Corleone perante as outras famílias, falando em família, os assuntos de negócio são também totalmente separados de assuntos pessoais, e o respeito e fidelidade a todos os familiares é bastante destacado entre os personagens, como uma longíqua tradição.

Os verdadeiros problemas se iniciam quando Sollozzo (Al Lettieri), um mafioso que possui apoio de uma família rival,e que, durante uma reunião entre as mais tradicionais, Sollozzo propõe um grande esquema de vendas de narcóticos em Nova York, pedindo proteção política e permissão a Don Corleone, este não concorda com o trato, afirmando que mexer com o comércio de drogas é muito perigoso e que estava satisfeito apenas com o monopólio de jogos de azar e proteção a seus aliados.

Com isso, o conflito entre as famílias se desencadeia, tornando o ambiente do filme muito mais complexo e violento, isso dá ao filme um pouco mais de necessidade de atenção.

O elenco é incrível. Marlon Brando fica imortalizado nesse filme, com um dos personagens mais marcantes do cinema, definitivamente ele rouba a cena, porém, o papel mais difícil seria o de Michael Corleone, no decorrer da história e das intenso conflito das famílias, fica com ele a responsabilidade de levar os negócios da família a frente, um papel de um homem corajoso que sofre uma tamanha reviravolta na vida, tudo será mais explicado ao assistirem o filme. O papel de Michael Corleone também havia sido oferecido a Jack Nicholson, e a Dustin Hoffman, depois de explodir em A Primeira Noite de um Homem. Esse foi um dos papéis mais importantes da carreira de Al Pacino, já que a trilogia na verdade é voltada para a vida de Michael Corleone, analisando-se totalmente a trama.

A direção de arte e figurino também são ótimos, a fotografia da Sicília é maravilhosa, a parte técnica do longa não deixa a desejar, junto com dezenas de cenas marcantes e inesquecíveis,e até mesmo chocantes (como a cena da cabeça de cavalo, que é verdadeira), o tiroteio na barraca de frutas, a chacina no restaurante, entre tantas outras.

O cuidado com o roteiro também pode ser visto, sabendo que Coppola e Mario Puzo evitaram a todo custo o uso da palavra máfia nas filmagens, para não resumir em uma só palavra toda a complexidade vivida pelos personagens no filme, o resultao desse esforço resultou em 3 oscars: Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator (Marlon Brando). Recebeu ainda outras 8 indicações: Melhor Ator Coadjuvante (Al Pacino, James Caan e Robert Duvall), Melhor Som, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora, Melhor Montagem e Melhor Figurino). Ganhou ainda 5 Globos de Ouro: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator em Drama (Marlon Brando), Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro. Recebeu ainda outras duas indicações: Melhor Ator em Drama (Al Pacino) e Melhor Ator Coadjuvante (James Caan) e o Grammy de melhor trilha sonora composta para o cinema (totalmente merecido, a música tema é memorável). Seguido por O Poderoso Chefão 2 (1974) e O Poderoso Chefão 3 (1990).

Totalmente realista, O Poderoso Chefão é um retrato frio da realidade da máfia Italiana dos anos 40, fica praticamente impossível desgrudar os olhos da tela, atuações memoráveis, personagens memoráveis, sem dúvidas uma proposta “irrecusável”.

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Cidadão Kane

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O jovem diretor americano Orson Welles, após a notoriedade conquistada nas ondas do rádio, em 1939, onde transmitira um programa que simulava a invasão dos Estados Unidos por marcianos, ficou marcado por sua índole polêmica, e, graças a essa, recebeu da produtora RKO um grande orçamento e carta branca para dirigir seu primeiro filme, o aclamado “Cidadão Kane”.

A história do filme funciona como uma alusão a história de vida do magnata das comunicações William Randolph Hearst. O personagem central é o empresário e jornalista Charles Foster Kane (Orson Welles), o filme reconstitui os principais fatos de sua vida, bem como sua ascenção no cenário da imprensa americana da época.

O maior mistério da trama é o significado da palavra que Kane pronuncia no leito de morte,a morte de Kane comovera a nação e o porquê da palavra “rosebud” se torna uma obsessão para o jornalista Thompson (Joseph Cotten), que passa a entrevistar pessoas próximas ao protagonista, várias informações vão sendo descobertas, desde sua infância, até quando Kane se torna um dos maiores milionários do país, sua personalidade ambiciosa fica cada vez maior no decorrer de sua vida.

Kane herda uma fortuna e deixa de viver som seus pais muito cedo para ser criado pelo banqueiro Walter Parks Thatcher (George Coulouris). Quando Kane atinge a maioridade todos os negócios passam a sua mão, mas ele decide se dedicar a um negócio pouco rentável: Um jornal convencional e pouco influente. Kane consegue um enorme sucesso na mídia após atrair grandes empresários da concorrência com ofertas de melhores salários e praticando um jornalismo sensacionalista. Chega a tentar carreira na política, concorrendo a governador, porém, um escândalo o impede de se eleger. Casou-se com duas mulheres, mas seus relacionamentos afetivos não deram muito certo e Kane passou seus últimos dias sozinho em seu palácio, pra onde levou obras de valores incalculáveis, tudo o que seu dinheiro poderia comprar, mais o dinheiro não era capaz de preencher o vazio que tinha por dentro.

Seria estranho falar sobre Cidadão Kane e não citar as inovações tecnológicas que o mesmo promoveu para o cinema na época,como o uso de flashbacks e sombras, longas seqüências sem cortes, a distorção de imagens para aumentar a carga dramática, os diálogos sobrepostos e closes usados com contenção. A maquiagem do filme é fantástica, o modo que Welles foi transformado, envelhecendo anos junto com Kane é sensacional, o filme foi revolucionário em vários sentidos. O talento e a inovação de Orson Welles, que, na época, tinha apenas 25 anos foi magistral.

Considerado por muitos críticos o melhor filme de todos os tempos, Cidadão Kane foi vencedor do prêmio de melhor roteiro original na 14ª edição do Oscar, em 1942, sem contar que o mesmo foi indicado aos prêmios de melhor direção de arte, melhor fotografia, melhor montagem, melhor trilha sonora, melhor som, melhor ator, melhor diretor e melhor filme. Foi também vencedor do prêmio de melhor filme da Associação de Críticos de Nova York e considerado o melhor filme do século pelo American Film Institute, á frente de Casablanca e O Poderoso Chefão.

Analisando toda a importância de Cidadão Kane, concluímos que o filme é impecável, um grande clássico e um marco para a história do cinema, um filme sexagenário que facilmente se manterá vivo por outros 60 anos.

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Pulp Fiction: Tempo de Violência

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Apesar de hoje não estarmos falando de um filme tão antigo, em compensação o filme em questão é uma ou senão a obra mais famosa de toda uma década, responsável pela consagração de Quentin Tarantino e cheia de fãs espalhados por todo o canto. Nunca ação e humor negro foram tão bem colocados num filme só.

Antes de Pulp Fiction, Tarantino já havia nos presenteado com Cães de Aluguel (1992), seu filme de estreía contava com ingredientes que seriam usados nesse com muito mais complexidade: humor negro, muita ação e um roteiro brilhantemente estruturado de maneira não-linear, essa maneira original de contar a história garante a Tarantino um status de genialidade incomum e a nós um ritmo totalmente desenfreado de puro entretenimento. Porém, para o filme ser bem aproveitado, ele merece um pouco mais da sua atenção, já que as cenas não estão em ordem.

Toda a estética de montagem usada aqui serve pra contar três histórias, histórias onde

há personagens em comum e que se ligam entre si de maneira perfeita no final.

O filme se inicia com uma pequena introdução de um casal de assaltantes planejando um assalto numa lanchonete, após isso, a primeira história nos é apresentada: Vincent Vega (John Travolta) precisa levar a mulher de seu chefe, Mia Wallace (Uma Thurman) para se divertir enquanto o chefe vai para a Flórida cuidar de negócios particulares, a segunda história se trata do boxeador Butch (Bruce Willis), que é considerado velho demais para retornar aos ringues e pra isso recebe uma quantia de Marcelus Wallace para perder a luta. A terceira história é focada no parceiro de Vincent Vega, Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), onde ambos devem limpar o carro após um violento assassinato no banco traseiro.

Á medida que o filme passa, tudo parece meio sem sentido e mostrado de maneira esquisita, como já havia dito antes, o filme necessita de uma maior atenção, ao analisar os pontos de ligação entre as cenas, percebemos que tudo foi muito bem pensado, como histórias aparentemente simples em um filme fazem dele uma grande obra-prima? Esse é o mérito do longa do início ao fim, o roteiro montado de forma não-cronológica, diálogos fortes e bem construídos, naturalidade perante situações peculiares, atuações incríveis do elenco e o enriquecimento da trama por meio de detalhes fazem de Pulp Fiction uma das obras mais originais do cinema.

O elenco é algo importante a detalhar: Pulp Fiction foi o responsável pela grande ressureição da carreira de John Travolta, onde recebeu 150.000 dólares para interpretar Vincent Vega, Travolta está ótimo em todo o filme, principalmente nas cenas com mais tensão. Samuel L. Jackson é outro caso a parte, atuando muito bem como Jules Winnfield, o jeito que ele usa o cabelo e o cavanhaque imortalizaram sua imagem, sem contar a clássica cena da leitura da passagem da bíblia de Ezequiel.

Nesse filme, Tarantino também fez uma pontinha, ele interpreta Jimmie, o homem que cede sua casa para Vincent e Jules limparem o carro. Tarantino estava em dúvida se atuaria como o traficante que vende drogas a Vincent ou Jimmie, acabou por escolher atuar como Jimmie porque queria estar atrás das câmeras na pesada sequência onde é retratada uma overdose.

Particularmente, o maior pró de todo o filme é a sua trilha sonora, simplismente demais, músicas agitadas nos fazem ficar ligados a tudo que está acontecendo na tela, e a música tema de Uma Thurman é inesquecível.

Pulp Fiction foi o vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original e foi indicado a outras seis categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (John Travolta), Melhor Ator Coadjuvante (Samuel L. Jackson), Melhor Atriz Coadjuvante (Uma Thurman) e Melhor Montagem. Ganhou a cobiçada Palma de Ouro, no Festival de Cannes, e os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Ator (John Travolta) no Festival de Estocolmo.

Algo Contra? Talvez a versão nacional do DVD, onde não há nenhum extra e a qualidade da imagem não é a das melhores, do contrário, elogios não são suficientes pra explicar a tamanha genialidade do filme, responsável por dar uma nova cara ao cinema independente americano, grandioso e pretensioso, e que deu certo, e bota certo nisso, um dos maiores filmes dos anos 90, é Tarantino em sua grande forma.

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Capote

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Pequeno grande filme de Bennett Miller. Bem roteirizado e divinamente interpretado por Philip Seymour Hoffman.

Capote está longe de ser mais uma adaptação como outra qualquer. Ao invés de contar a história de um livro, o roteiro de Dan Futterman preocupa-se em relatar a trajetória da escrita de um livro, que ficou conhecido como o última e mais bem escrita obra literária do escritor americano Truman Capote.

Este determinado livro cujo processo de realização fora retratado neste filme, é o denominado A Sangue Frio cuja autoria de Capote é datada de 1966, ano de sua publicação. O livro conta a história do brutal assassinato de quatro pessoas no interior do Kansas por Richard Hickock e Perry Smith, o modo como agiram e pensaram no dia da chacina. O filme conta o modo como Truman Capote foi coletando as informações e o modo como ele ficou próximo dos assassinos, chegando a visitá-los toda semana.

Todo o processo de escrita, que envolvia leituras coletivas, trabalho árduo, viagens e pesquisas, tudo é brilhantemente relatado pela detalhoso roteiro de Dan Futterman. A criação da suposta amizade entre Capote e os assassinos é feita de uma maneira simbólica, singela e sensível. Aos poucos, vamos nos descobrindo cada vez mais dentro do psicológico do roteiro e nos pomos a pensar das atitudes que Capote decide tomar. Capote, o filme, é diferente das outras adaptações justamente por causa disso, já que é indireto, ao mesmo tempo uma biografia e uma denúncia. Até os subtemas mais obscuros são iluminados pelo roteiro, até a maneira como a imprensa julgava (julga até hoje) os indiciados, a pressão sobre as celebridades, a dúvida de saber o que quer e o que é correto a ser feito. Absolutamente todos os argumentos para se questionar uma atitude são postas em prática na narrativa complexa, mas ao mesmo tempo, muito cativante.

Já dizia Antoine de Saint-Exupéry em seu clássico infantil O Pequeno Príncipe, cativar significa "criar laços". Pode ser até batido falar que logo nos sentimos cativados pelo personagem Truman Capote, mas o fato é que Philip Seymour Hoffman, a quem vou conceder algumas linhas dessa crítica, consegue cativar qualquer um com sua simplesmente soberba e fantástica interpretação do escritor americano. Podemos dizer que baixou o Truman Capote no corpo de Hoffman. Ele está caras e bocas, falas e gestos, completamente idêntico ao verdadiero litérario. Desde uma competente maquiagem até a expressão do rosto, do olhar até os gestos, da fala até o modo de andar e de sentar. Philip Seymour Hoffman brilha intensamente, sem cessar durante todos os vários momentos de glória do ator em cena. Sem qualquer exagero, ele se tornou, o que já era praticamente certo, o melhor e mais completo ator de sua geração. Talvez seja ele o principal diferencial que faz divergir para melhor este filme de Confidencial, cujo mesmo Truman Capote em uma mesma estória é interpretado por Toby Jones, que por mais que esteja bem, não chega à unha do pé de Hoffman, na que talvez seja uma das melhores performances masculinas da história.

Bennett Miller é outro grande ponto positivo para este Capote. Sua direção segura, competente e diferenciada garante o máximo aproveitamento de cada cena, com toques de sensibilidade que talvez venham a ser a principal marca do diretor em seus futuros projetos. Miller também se mostra um excelente comandante de elenco, uma vez que foi ele que fez Hoffman soltar o fantástico ator que havia dentro dele, algo ainda melhor do que já havíamos visto em seus trabalhos anteriores. Catherine Keener está belissamente correta, daí o seu talento. Contida, sua interpretação baseia-se em olhares e em sua experiência bastante amadurecida agora, por este trabalho.

O longa nada mais é do que um dos melhores "indies" dos últimos anos. Desde Pulp Fiction: Tempo de Violência, a indústria independente tem tido outro gás e começaram a fazer cada vez mais e melhores filmes, e 'Capote' é um exemplo deles.

Artisticamente, a fotografia escura e melancólica de Adam Kimmel e a trilha emocionante de Mychael Danna garantem o máximo rendimento, e os figurinos de Kasia Walicka-Maimone só ajudam a fazer da reconstrução da época do filme, algo ainda mais extraordinário.

Em seu todo, Capote é um filme demasiadamente depressivo e muito melancólico. Talvez abusando um pouco da boa vontade do espectador em entrar no psicológico de dois assassinos crueis, o filme poderia ter um rendimento ainda maior, mas é apenas um detalhe que não atrapalha ao espectador que curte um filme da categoria deste, com um diretor novato e inspirado, corajoso e determinado, um roteiro majestral até um ator brilhante. Recomendadíssimo por sua essência e por cada coisa que fez deste, um filme vencedor.

Críticas

Rumba

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O cinema europeu em geral produz a cada ano obras magníficas. Muitos clássicos do velho continente são cultuatos até hoje em todo o mundo - até mesmo na terra do Tio Sam. Um dos principais expoentes é o cinema francês, que tem por costume produzir filmes com inteligência refinada e comédias muito gostosas de se assistir.

Estreou recentemente no circuito brasileiro a comédia “Rumba”. Em linhas gerais, o filme conta a história de Dom e Fiona, casal que vive no interior da França e dá aulas em uma escola local; ela, professora de inglês, e ele, professor de educação física. O relacionamento, que aparentemente parece sofrer com os entraves do cotidiano, tem seu ápice de alegria todos os dias quando o casal se reúne após as aulas para celebrar sua paixão - a música latina.

No entanto, a história muda de figura quando ao voltar de um concurso de dança - no qual foram vencedores -, eles sofrem um trágico acidente que mudará o rumo de suas vidas. Um roteiro desses daria um excelente drama, daqueles de derramar rios de lágrimas; contudo, esse é o palco de uma ótima comédia.

Dom e Fiona reúnem um misto de estranheza e felicidade; ao passo que vivem em um cotidiano desgastado e sem graça, se torna inevitável não notar a alegria que flui proveniente da dança e da música - simplesmente encantador. Um fato curioso é que ambos passam bem longe dos padrões de beleza atuais - o que dá ainda mais graça ao filme.

Para colorir ainda mais a trama, o casal apresenta trejeitos pra lá de curiosos e em algumas vezes invertidos; ela é uma espécie de “dona” da relação; basta notar a cena do carro quando eles rumam para o concurso de dança - algo está muito errado naquilo.

Com um roteiro simples, que na maioria das cenas optou pelo visual em detrimento dos diálogos - algo que ajudou muito no produto final -, “Rumba” é um filme que consegue divertir sem rumar para um forma apelativa e se tornar ridículo, muito embora seja uma comédia um tanto quanto escrachada. O ponto positivo aqui é que tudo flui naturalmente, sem a necessidade de se forçar nada.

Destaco a fotografia e a maquiagem, que em tons claros e alegres ajudam a demonstrar que se pode ser feliz mesmo após uma tragédia. Só a título de curiosidade, tanto o roteiro quanto a direção são assinados pelos próprios protagonistas - Dominique Abel e Fiona Gordon, que se auto-dirigem na obra.

“Rumba” não é brilhante, embora eu só tenha coisas boas a dizer sobre o longa. Talvez nos tempos em que se torna cada vez mais raro se ver uma comédia de qualidade, “Rumba” aparece como uma surpresa muitíssimo agradável nos cenários mundial e europeu.

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Críticas

Lista de Schindler, A

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A Obra-prima máxima de Steven Spielberg.

Spielberg já é bastante conhecido entre todos nós, principalmente por ser o responsável pelos mais famosos blockbusters da história do cinema, como Tubarão, e Jurassic Park, sem contarmos o encantador E.T - O Extraterrestre.

O projeto para A Lista de Schindler chegou as mãos de Spielberg logo após a finalização de E.T, sendo produzido dez anos mais tarde, parece tardio, mas o tempo foi o de menos quando se estava por vir uma das maiores obras do cinema,todo o tempo foi realmente necessário para todos aqueles que participaram da película a se amadurecer, se preparar e enxergar com clareza a tamanha importância da mensagem que o filme transmite.

Antes de Spielberg, o filme havia sido oferecido a Martin Scorsese, que deixou a idéia de lado, preferindo que essa fosse trabalhada por um judeu, ele afirmava que isso comprometeria de maneira direta no amor e a emoção de realizar o filme, e com toda a razão.

A Lista de Schindler conta a verídica história do empresário alemão Oskar Schindler (Liam Neeson), que, usufruindo de sua forte influência dentro do partido nazista, buscou aumentar seus lucros com o uso da mão-de-obra judia, recrutando vários deles para trabalharem em sua fábrica de esmaltados, já que os judeus não deveriam sequer receber salário, o lucro era certo para Schindler.

Até aí nós percebemos uma atitude um tanto oportunista de um homem, não nos passa pela cabeça que esse mesmo homem seria o responsável por um dos maiores casos de amor à vida da história, um homem que, apesar de seus defeitos, amava o ser humano e fez o máximo de si para salvar mais de 1100 de judeus dos terríveis campos de concentração.

No decorrer do filme, Schindler tem contato com todas as atrocidades cometidas pelos nazistas durante essa época, uma fase negra da história da humanidade, o Holocausto.

Sua consciência vai sendo moldada no decorrer dos fatos, mortes chocantes, as vezes causadas por pura diversão, e o que mais assusta é que várias coisas que acontecem, ocorreram de verdade, resultado de inúmeras pesquisas e relatos dos sobreviventes do massacre.

Um exemplo do que pode ser a consciência de Schindler é a garotinha de vestido vermelho, uma das únicas cores mostradas no filme (o filme é em preto e branco, mais isso não o impediu de possuir uma fotografia maravilhosa) junto com a chama das velas mostradas, a presença da cor vermelha no meio de todo aquela população em preto e branco, nós sentimos que a garotinha fica marcada na mente do protagonista, sentimos naquele momento o baque que ele toma, a percepção do que está ocorrendo de verdade, isso mexe com o público da mesma maneira.

Após presenciar violentas barbaridades, quando os nazistas iniciam a “solução final” (execução em massa dos judeus), Schindler intercede junto ao comandante Amon Goeth (Ralph Fiennes), subornando outros oficiais e garantindo tratamento diferenciado para seus operários, fazendo tudo o que estava em seu alcance para salvar o máximo de vidas possível, usando pra isso toda a sua fortuna.

Os cenários são incríveis, Spielberg não obteve autorização para filmar em Auschwitz, onde existiu um dos mais conhecidos campos de concentração nazistas, um set construído à imagem e semelhança da real Auschwitz foi integrado aos estúdios da Universal. Toda a fama que Spielberg possui em meio a parte técnica também não é esquecida nesse longa, como já havia dito antes, a fotografia em preto e branco é maravilhosa, fato dado por todas as lembranças do diretor sobre esse tema serem em preto e branco, devido aos documentários que assistia.

Outra característica marcante é sua trilha sonora, perfeita, músicas que parecem que foram criadas para as respectivas cenas, que nos envolve junto com a trama de um modo emocionante.

Toda essa façanha feita por Spielberg, que mostrou brilhentemente um pouco da chocante história do Holocausto da 2ª guerra mundial, lhe rendeu 7 oscars: 7 Oscars: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição e Melhor Roteiro Adaptado, recebendo ainda outras 5 indicações: Melhor Ator (Liam Neeson), Melhor Ator Coadjuvante (Ralph Fiennes), Melhor Figurino, Melhor Som e Melhor Maquiagem.

A Lista de Schindler ganhou ao mesmo tempo 3 Globos de Ouro: Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor e Melhor Roteiro. Foi ainda indicado nas seguintes categorias: Melhor Ator em Drama (Liam Neeson), Melhor Ator Coadjuvante (Ralph Fiennes) e Melhor Trilha Sonora.

A Lista de Schindler mostra de maneira nua e crua a triste realidade de um período catastrófico da história, de maneira absurdamente brilhante e emocionante, em alguns momentos as lágrimas são inevitáveis, um filme que fica na memória de quem o assiste durante muito tempo.

“Aquele que salva uma vida, salva todo o mundo.”

Críticas

Rainha, A

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Your Majesty, Mrs.Mirren

Filme inteligente, com roteiro e direção ágeis, A Rainha ainda conta com uma atuação de gênio de Helen Mirren.

Em 31 de Agosto de 1997, a Princesa Diana de Gales foi vítima de um acidente de carro em Paris, que resultou em sua morte. Diana era uma mulher querida por todo o povo inglês, que não cessaram em fazer homenagens à mulher, conhecida como "Princesa do Povo". Entre mais de um milhão de buques de flores colocados na frente da moradia da Princesa, o Palácio de Kensington, mais de três milhões de pessoas se acomodaram como puderam na frente do Palácio de Buckingham onde a Família Real reside. Todos esses acontecimentos, partindo do ponto de vista da realeza britância são tratados com muita cautela e esperteza pelo roteiro inspirado de Peter Morgan que se preocupou em abordar desde a rotina íntima da Rainha Elizabeth II, suas discussões privadas com o até então primeiro-ministro inglês Tony Blair até o seu famoso discurso de lamentação, que fora televisionado para todo o mundo, direto do Palácio.

Para começar a analisar o filme, Stephen Frears merece destaque como um diretor de talento único. Preocupando-se em abordar temas que envolvem questões políticas até pessoais, ele capta a essência do filme sem se levar por subtramas desnecessárias e conduzindo um elenco, junto ao roteiro de maneira clara e segura, sem se deixar levar por qualquer fator que o destraia do objetivo ao qual pretende chegar. Indicado ao Oscar pela segunda vez (fora nomeado em 1990 por Os Imorais) este é sem dúvida o seu melhor filme, onde tudo se encaixa perfeitamente às normas do bom cinema.

Peter Morgan tem seu melhor trabalho impresso aqui. Seu roteiro beira à perfeição ao inspirar situações reais e misturar cenas verdadeiras dos dias tristes que sucederam a morte da Princesa Diana em meio à narrativa construída e por ele e maestrada por Frears. É notável como Morgan englobou o cotidiano da realeza britânica, em especial o dia-a-dia da Rainha Elizabeth II, que envolve desde caçadas, passeios em seus domínios reais na Escócia, até seus aposentos no Palácio de Buckingham (algumas cenas do filme foram realmente gravadas dentro do Palácio, em aréa não-restrita). Mas nada neste filme seria de qualidade excepcional não fosse uma atuação de rainha de Helen Mirren, literalmente.

Para falar dela, é preciso um outro parágrafo. Mirren está simplesmente aterradora, ou melhor, a própria Rainha. Não resta dúvidas da capacidade da atriz de interpretar distintos papeis, mas este é com certeza o seu trabalho mais ousado, e o melhor também. Sua atuação baseia-se na composição gestual, em olhares e em uma postura elegante. Tudo, absolutamente tudo que Helen Mirren fez foi recompensado, ela ganhou o Oscar, o Globo de Ouro, o Bafta, O SAG e mais dúzias e dúzias de prêmios ao redor do mundo, podendo assim, completar um aposento em sua casa só de estatuetas. No Festival de Veneza de 2006, houve uma ovação de mais de cinco minutos à interpretação de Mirren, garantido o sucesso grandioso do filme. A cena do discurso da Rainha pode ser conferido no You Tube, para quem quiser comparar, os discursos estão assustadoramente idênticos. Mirren conseguiu imitar a Rainha de maneira espetacular, usando das mesmas expressões facias, até seu olhar e modo de falar são perfeitos. É de uma semelhança inacreditável.

A Rainha é um filme pretencioso, verdade. Britânico demais e uma crítica muito positiva de Stephen Frears à monarquia. Talvez seja esse o principal defeito do filme, ser monarca demais e ao final, parecer mais um retrato da realeza britânica nos dias de hoje, mostrando a vida dura e cheia de problemas que uma Rainha é obrigada a enfrentar, além de uma compreensão justa (ou não) da atitude Família Real durante a semana conturbada para Londres e o mundo.

Enfim, visualmente o filme se destaca em vários quesitos. Desde a fotografia magnífica do brasileiro Affonso Beato, até os figurinos arrojados e muito elegantes de Consolata Boyle. Merece destaque também uma trilha sonora instigante de Alexandre Desplat, refinada e de uma classe bem acima da média.

'A Rainha' é um grande filme, muitos o consideram como um filme de atriz, o que de fato não é. Direção e roteiro merecem aplausos, embora britânicos demais para o gosto da maioria. Helen Mirren é o porquê da grandiosidade do filme, sem a sua interpretação fantástica, ele não seria o que é.

Recomendadíssimo a todos aqueles que apreciam um filme inteligente e ágil, com destaques na frente e atrás das câmeras.

Críticas

Viver

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"Watanabe é um funcionário público que passou toda a sua vida servindo um sistema que onde a falta de iniciativa e a obediência significam êxito. Com a descoberta que possui pouco tempo de vida, ele toma consciência que não vivia : vegetava. Viúvo, morando com o filho que não o enxerga, ele procura coroar de sentido sua existência."

Acabei de assistir “Viver”. Venci o receio. Iniciei em minha existência o contato com a obra de Kurosawa pelo “Os Sete Samurais”. Pretendia assistir posteriormente “Viver”, mas os anos se passavam e a oportunidade não surgia. Aí se criou em mim um clima de receio, já que o desejo aumentava juntamente com o medo de que o filme não estivesse à altura da expectativa criada. Felizmente, tal não se deu. O filme é maravilhoso.

O filme parece flertar em seu início com “Cidadão Kane”. O filme se abre com a imagem de uma radiografia de um estômago. A doença confirmada por essa radiografia dá a seu dono apenas seis meses de vida. É uma voz em off que nos revela isso. E esse narrador nos informa que durante 30 anos esse homem não viveu. Fala-nos também que antes dessas três décadas ele vivera. As cenas iniciais, mais do que mostrar o retratado, pretende descrever a gaiola em que ele vive em seu ofício. Lá impera a burocracia, o não dar satisfações a população. É uma máquina que visa vencer a população pelo cansaço. A função de seus funcionários é mostrar que o que motivou a vinda da população até aquela repartição pública da prefeitura, não é o maior dos males. Tentar solucionar tais problemas é pior do que conviver com eles. É uma ode a incompetência. Sutilmente percebemos que em uma das gavetas jaz esquecido os sonhos de outrora: um projeto desenvolvido por Watanabe para tornar aquele mundo eficiente. Mas para ser considerado eficiente e ostentar em sua casa os diplomas de funcionário exemplar o protagonista seguiu o lema mais conveniente: Para fazer sucesso na carreira pública, é preciso mostrar que você jamais causará embaraços a ninguém, mostrando ser capaz.

Após conhecermos a máquina pública e sobretudo o ambiente da seção onde Watanabe trabalha, nos dirigimos até um hospital, onde ele se dará conta de que seu fim está próximo (6 meses). A política médica de então, não permitia que se informasse ao paciente sobre a sua realidade. Tal pode ser creditado ao número excessivo desse problema em solo japonês (herança das bombas atômicas?) aliado a uma política de corte de gastos (para que se operar, se o resultado geralmente é nulo). Não creio em uma atitude de humanidade dos esculápios de então.

Com a notícia, vemos que Watanabe entra em parafuso. Dá-se conta que não vivia, e não sabe o que realizar com essa ingrata descoberta. O câncer apenas retrata aquilo que ele percebe claramente então: ele vegeta. Procura o apoio no meio familiar, mas não encontra espaço para isso. Busca então os excessos, crendo assim poder recuperar o tempo perdido. “Eu bebo saquê, apesar de ter câncer, para protestar contra a vida que eu levei” . Ele bebe, apesar de seu estado de saúde não permitir, pois quer conduzir sua existência e não mais ser conduzido. Viver é agir.. O seu mergulho na noite de Tóquio acompanhado de um escritor de novelas, que se apresenta como Mefistófeles, não deixa de ser uma ida ao inferno. Tókio já se deixara influenciar pela cultura americana. O som que o acompanha nesse périplo, é aquele que embala o país do Tio Sam. Não existe consolo nesse mergulhar, já que nele ele não encontra o passado de outrora. Muito pelo contrário: o mundo que ele conhecia morreu antes dele. Volta-se então para uma jovem funcionária de sua Seção que viera até sua residência para que ele consumasse o seu pedido de desligamento do serviço público. Ela lhe confessa que estar naquele local é deixar de viver. Watanabe se simpatiza com ela, percebe que jamais a conhecera e se dá conta de que ela carrega em sua análise uma verdade que ele teimava em não ver. Ela o acompanha pela cidade e os familiares de Watanabe, crêem que ela é sua amante. Watanabe encontra nessa jovem o apoio que não vira em seu lar e entre seus amigos da repartição. Sente-se feliz em poder dá alegria a esse ser. Presenteia com meias, leva-a para se divertir e degustar pratos que ela não pode usufruir em seu cotidiano. Quer resgatar a juventude através da vida dela, mas mais que isso percebe que em se cuidando de um próximo, seus problemas se minimizam.

O genial é a forma como Kurosawa relata o retorno de Watanabe ao serviço. Tudo que será realizado então, nos chega através da visão dos que trabalhavam com Watanabe. Só assim a construção do parquinho para as crianças se torna diante de nós uma obra de Hércules. A admiração com que é relatado o feito de Watanabe em seu funeral, nos dá a dimensão de seu feito. Artifício de um gênio: Viver é agir. Mas talvez seja também criar, nem que seja um simples parque para crianças, ou um retrato, ou uma cadeira, ou uma escultura ou filme. Kanji Watanabe nos apresenta a filosofia de vida de Kurosawa: Deve ser horrível morrer, sem antes ter tido tempo de exprimir e concretizar atos concretos. Se para Watanabe é construir um parque, para o cineasta é imprimir uma película. A motivação é única: Viver...

O olhar para trás não é algo incomum na obra do cineasta. Os personagens que desfilam em seus filmes são velhos sábios que encontram em seu passado algo que dota o futuro de razão : Morrer é completar um ciclo. O que diferencia Watanabe é que ele não encontra em seu passado nada que coroe a sua existência de uma razão de ser: A materialização de um sonho dá sentido a existência humana.

Quem encontrar semelhanças entre a proposta do filme e a novela de Leon Tolstoi : “ A morte de Ivan Ilitch ” não estará de todo errado. Ambos os retratados são funcionários públicos e não encontram pessoas que compreendam o que está acontecendo com eles. Ivan tem apenas um serviçal humilde com quem consegue alguns momentos de paz e Watanabe em servindo os humildes apazigua seu ser. Max Weber dissera que na época moderna, a abrangência de conhecimentos trazida pelo progresso, tirara da morte seu significado de coroamento da existência, pois partimos certos de que não apreendemos nada dela. E que Tolstoi fora o primeiro que se dera conta dessa verdade, daí a crise mística que o acometeu no fim de sua existência. Kurosawa não é tão radical em sua visão sobre a vida. Enquanto estiver espaço para a ação, o homem estará se coroando... É isso que nos fala Kurosawa através de Kenji Watanabe.

Filme impecável de um mestre da imagem.

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