Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet
Em mais uma parceria bem sucedida ao lado de Johnny Depp, o diretor Tim Burton dirige o seu melhor filme e um dos melhores de 2007.
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet já serviria de alerta para aqueles que não costumam gostar de filmes banhados à sangue. Não que a história de Benjamin Barker e sua doce vingança já não fosse conhecida pelos americanos, muito pelo contrário. Muito antes mesmo de virar peça da Broadway, a história do vingativo barbeiro ja havia se tornado longa metragem quase cinquenta anos antes, em 1926, novamente em 1928, 1936 e 1970. Aí sim esse pequeno grande sucesso fora passado em sua versão mais popular na Broadway, em badalada estreia de 1979. Perigoso? Sim, mas coragem nunca faltou ao determinado diretor Tim Burton. Antes de finalizar essa mais nova adaptação para o cinema de 'Sweeney Todd', outras três versões foram postas em prática e exibidas diretamente na televisão, em datas de 1982, 1998 e mais recente, em 2006. Fico feliz em dizer que não houve adaptação melhor do que essa a que estou criticando.
Abusando da volta triunfal dos musicais no início do século XXI, Burton usa desse mesmo estilo para recontar a estória do barbeiro londrino Benjamin Barker, que vivia feliz ao lado de sua família até que um cruel juíz acusou-o de um crime que não cometeu. Barker foi expulso de Londres, mas 15 anos depois ele volta sob o nome de Sweeney Todd, desejando vingança. Quando está de volta na cidade, ele reencontra uma antiga conhecida, a quituteira Sra.Lovett. Juntos, eles tramam um modo de vingança. Com a ajuda dela, ele monta a sua barbearia em cima de sua loja de tortas, em seu estado terminal. Em cima, ele mataria os seus clientes usando a sua navalha e enviaria os cadáveres para Lovett preparar a partir dos restos mortais das pessoas, "deliciosas" tortas que virariam a sensação do momento em Londres.
Tim Burton: Assustador e independente
Nada como um diretor de estilo demoníaco para dirigir um filme, que como o próprio título já diz, demoníaco. Burton sempre foi um diretor de estilo único, usando de técnicas sombrias e tons negros e tristes como cenários de seus filmes. Foi assim que ele fez com Os Fantasmas sem Divertem, com Edward Mãos de Tesoura, um de seus maiores clássicos, Ed Wood e dos mais recentes A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, a animação A Noiva Cadáver e seu mais último sucesso A Fantástica Fábrica de Chocolate. É interessante notar que grande parte, pelos menos a grande maioria dos filmes de Burton, ele trabalhou com Johnny Depp. Ao todo, foram mais de seis trabalhos que contamos com a parceria dessa industivelmente uma das mais famosas duplas de todos os tempos. Burton também trabalhou cinco vezes com Helena Bonham Carter, outra figurinha repetida e preferida atriz do diretor. Como era de se imaginar, visando os trabalhos anteriores de Burton, esse também tem o toque sombrio do diretor, com marcas típicas de seus gostos únicos e diferenciados. Todas essas características transformaram o diretor em uma figura assustadora, de talento indiscutível, porém demasiadamente sem nexo, o que faz com que várias pessoas se tornem seus fãs, e que outras passassem a odiá-lo.
Johnny Depp: The Demon Barber of Fleet Street
De uns tempos pra cá, Johnny Depp tem se destacado na indústria cinematográfica com papeis que lhe garantiram sucesso eterno. Ou então, como vamos nos esquecer do personagem que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar, o lendário Jack Sparrow? Ou de seu trabalho mais ousado em Em Busca da Terra do Nunca, onde ele interpretou Sr. James Matthew Barrie, um autor de teatro escocês, criador da história de Peter Pan. Por esse papel, Depp recebeu sua segunda indicação. Mas não foram só de indicações ao Oscar ou a quaisquer outros prêmios internacionais que Depp conquistou a fama. Suas escolhas sempre foram para cada vez ele aperfeiçoar mais o seu talento, como um homem que tem tesouras no lugar das mãos, ou como o pior diretor de todos os tempos, seja como Willy Wonka ou como o famoso Dennie Brasco. Talvez nenhum desses papeis lhe garantiu maior prestígio internacional como ator do que 'Sweeney Todd'. Em poucos filmes Depp trabalhou "de cara limpa", ou seja, sem o peso da maquiagem sobre o seu rosto. Neste não seria diferente. Como um verdadeiro e real barbeiro demoníaco, Depp está brilhante e assustador na mesma proporção. Seus olhares amedrontadores e frios, sua pose amargurado e sua voz rouca e vingativa como seu próprio personagem. A primeira vitória no Globo de Ouro e a sua terceira indicação ao Oscar foram mais do que merecidas.
The Worst Pies in London
"A customer!
Wait! What's yer rush? What's yer hurry?
You gave me such a--
Fright. I thought you was a ghost.
Half a minute, can'tcher?
Sit! Sit ye down!
Sit!
All I meant is that I
Haven't seen a customer for weeks.
Did you come here for a pie, sir?"
Até ela admite. Sra. Lovett, interpretada por uma maravilhosa Helena Bonham Carter é a dona de uma loja de tortas no coração de Londres. Como ela mesma diz no filme, ou melhor, canta, suas tortas são consideradas as piores de Londres. A quituteira possui um visual tão sombrio quanto o lugar onde ela trabalha. Um lugar que beira à imundice, com pó, insetos mortos, que acompanham as vestimentas da proprietária com aproximadamente os mesmos aspectos. Mais uma vez, ou melhor pela quinta vez, Helena Bonham Carter participa de um filme de Tim Burton. Como boa atriz que ela é, sua atuação não fica muito atrás da de Johnny Depp. Usando de olhares tão sombrios quanto, mas com tons esparançosos, a sua personagem é uma mistura de frieza, indiferença, mas muito esperta. Ela, apesar de ser uma pequena grande incógnita durante boa parte do filme, possui o cotidiano típico de uma mulher solitária e fracassada na vida, embora encare seus pesares da forma mais otimista possível.
Visual magnífico: Encantadoramente assustador
A marca registrada dos filmes de Tim Burton é justamente, como já foi dito, o seu visual sombrio. Para falar do departamento artístico, é preciso um parágrafo inteiro. De início, não seria novidade reconhecer o trabalho espetacular que Dante Ferretti produziu com seus cenários derradeiros de luxo, por mais sujos e acabados que aparentassem, negros e frios, uma vez que o Oscar de Direção de Arte já está aí pra provar. Quem brilha atrás das câmeras também é o departamento de maquiagem. Um trabalho verdadeiramente maravilhoso deixou Johnny Depp irreconhecível, ajudou a fazer dos personagens com características pálidas e tristes. Os figurinos espetaculares de Colleen Atwood, também indicados ao Oscar fazem uma reprodução de época ainda melhor. Vestimentas empoeiradas, típicas de um show, com cores que beiram ao preto, vermelho-sangue e cinza. Talvez seja esse, ao lado de Desejo e Reparação, o melhor trabalho técnico de 2007, onde tudo se encaixa de maneira excepcional à história e ao clima que ela apresenta.
O roteiro e suas canções
Para espectadores de pouca paciência, esse Sweeney Todd pode parecer uma chatice sem fim, com suas músicas e mais músicas, onde absolutamente cada cena vira um motivo pra cantorias. Tudo bem que a voz de Depp e Bonham Carter juntos, além de coadjuvantes soam muito bem para os ouvidos, eles não desafinam em instante nenhum. Surpreendentemente, constatamos um trabalho magnífico da equipe de mixagem de som, que sempre beira à perfeição em musicais de alto escalão, como os inesquecíveis e recentes Moulin Rouge - Amor em Vermelho, Chicago e Ray. A história é muito bem desenvolvida, uma vez que o roteiro prende o espectador e é muito bem sucedido nesse aspecto, mas alguns excessos de melancolia em algumas partes poderiam ter sido evitados tanto pela narrativa quanto pelas canções. Em um musical, geralmente espera-se númeors grandiosos e divertidos ou até mesmo uma simbólica homenagem, mas neste caso vemos um musical com o intuito de assustar, e em alguns casos chega até mesmo a divertir com pitadas suaves de humor negro. Enfim, o roteirista John Logan faz um trabalho, onde alguns excessos aqui outros alí poderiam ter sido evitados.
Em relação às canções, algumas são realmente divertidas e bem escritas, outras já não tão boas assim. Stephen Sondheim faz o que pode para divertir o espectador com canções que ficam no lugar dos diálogos, que resumem cenas e que contam a história o mais rápido que podem. Talvez uma das melhores seja My Friends a qual Johnny Depp interpreta em referência às suas "amigas/navalhas", ou até mesmo a assustadora porém engraçada A Little Priest onde Todd e Lovett cantam a sua nova idéia de negócio, ou a canção de saudade e tristeza de Sweeney Todd, No place Like London, ou quem sabe The Contest, canção da divertida cena da "batalha" entre os dois barbeiros.
Os coadjuvantes e seus personagens marcantes
Embora todas as atenções se virem para a dupla principal de Johnny Depp e Helena Bonham Carter, os coadjuvantes da história também se destacam pela excelência na cantoria e na maioria dos casos, na atuação também. É o caso do ótimo Sacha Baron Cohen, que se livrou temporariamente do rótulo de "Borat" e passou, nem que fosse por alguns instantes, a ser considerado mais um ator de talento, porém um talento que virá a ser confirmado em futuros projetos. Ele interpreta astutamente Signor Adolfo Pirelli, considerado antes da volta de Benjamin Barker/Sweeney Todd, o melhor barbeiro de Londres. Outro ator que se destaca é Alan Rickman (pra não conhece, Severo Snape de Harry Potter). Ele atua como o juíz Turpin, que expulsara Barker de Londres, a fim de ficar com sua bela esposa e criar a sua filha. No entanto, tudo indica que a mulher morreu e a filha fica presa em seu quarto, observando a rua pela janela, em meio a várias cantorias. Anthony Hope (Jamie Campbell Bower) é um conhecido de Benjamin e um marinheiro, que um dia passava em frente à moradia do juís e observa a bela Johanna sentada na janela. Logo ele se apaixona e trama modos de como tirá-la daquele quarto. Quem também faz uma ponta no filme é Timothy Spall, que também participa da série do bruxinho Potter como Rabicho. Ele faz Beadle Bamford, um comparsa do juís Turpin e mais uma vez, está transformado pela maquiagem caprichada.
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet é de longe o melhor trabalho de Tim Burton, excelentemente interpretado, e de visual arrebatador. É mais um eficiente musical deste século, e se você é fã do gênero, não pode perder.