É nos recantos mais escuros que nascem as flores mais belas.
Como já disse algumas vezes, o ano 2012 parece-me ter sido um ano muito fraco para o cinema. Parece-me, não posso jurar a pés juntos que seja, pois ainda só vi, salvo erro, três filmes feitos nesse ano (esta parte do comentário vai tornar-se datada com a passagem do tempo. Talvez a edite depois...). Foram eles Valente, As Aventuras de Pi e O Impossível. Os dois primeiros receberam de mim a mesma nota e achei-os fraquinhos. E o segundo foi pena, porque parecia um dos filmes cotados para o Óscar mais acessíveis e mais agradáveis de 2012. Foi uma pena constatar que um dos poucos que pareciam mais interessantes desse ano era, ele próprio, fraco. No fim de contas, parece ser verdade a frase feita: é nos recantos mais escuros que se nascem as flores mais belas! Assim foi comigo: O Impossível, que foi destes 3 o que menos atenção recebeu por parte do Óscar, é incomparavelmente mais marcante. Pode ter um título que remete para a comédia (tipo: “Ai, esse homem é impossível!”), mas não só não é comédia como é um drama capaz de levar às lágrimas.
Mas vamos em frente, pois esta introdução não é tão necessária quanto isso (suponho que não queria começar a falar deste filme de repente, mas enfim...). Ora, o filme não começa da melhor maneira. Isso eu admito; mesmo não considerando alguns clichés, alguns mais notórios que outros, digamos que simplesmente o começo não tem assim nada de especial. Nenhuma cena que chame mais a atenção, nenhum pormenor de qualidade evidente. Mas, como já vi em vários filmes, a coisa decola quando se processa o principal evento do filme. Neste caso, o tsunami. Também...não esperávamos outra coisa, não é? A partir daí, o filme está lançado; planos de câmara, efeitos especiais e som de qualidade engolem-nos na assustadora experiência de observar um tsunami a levar tudo à sua frente. E só temos de esperar uns minutos para encontrar uma cena que é mais que suficiente para sairmos do cinema satisfeitos: a maravilhosa cena em que, no meio da água, Maria e Lucas conseguem finalmente agarrar-se um ao outro. Aquele abraço na água é um símbolo exemplar da maravilha que pode ser um amor de mãe (ou até de filho). A cena mais linda do filme e que me fez ficar a pouca distância das lágrimas pelos olhos fora. E isso, garanto, não é qualquer coisa; só um punhado de filmes tiveram um efeito assim em mim. A saber: Titanic, Austrália, Vidas Amargas e Um Olhar do Paraíso
A partir daí, há o resto. Não é um resto que não interessa, nada disso! Simplesmente a cena que acabei de citar é a melhor e nenhuma das que vêm a igualam ou superam. Mas creio que não preciso de descrever muito o que se segue, até porque o filme é simples. Simples, mas não simplório. Simples, mas formidável dentro daquilo que propõe. Tem alguns problemas de ritmo, é verdade, mas está recheado de bons sentimentos, o que já é razão para admirarmos o filme. Está bem, há centenas, talvez milhares de filmes excelentes que não se baseiam nos bons sentimentos. E não podemos mostrar só bons sentimentos em tudo o que é filme, pois não? Também existem vilões e até segundas intenções por trás de boas acções. Mas, felizmente, alguns filmes se dão ao luxo (?) de ser apenas um filme de bons sentimentos. Isso não faz deles automaticamente bons filmes, mas eu acho que O Impossível consegue conciliar a qualidade e os bons sentimentos.
Podemos dizer que o filme é melodramático? Sim, mas eu cá gosto de melodrama (salvo raras excepções). Podemos dizer até que é manipulador e que o roteirista quis pôr pessoal a chorar à força toda. Claro que aí já chegamos a pormenores mais difíceis de esclarecer – a intenção por trás do trabalho de um roteirista. Mas vá lá; vamos supor que, sim, é manipulação. Ok, é manipulador. Pois bem...quero lá saber!!! Eu quero ser manipulado! Aliás, eu pago para ser manipulado! Cada vez que compro um ingresso no cinema, eu espero sentar-me depois na cadeira e, basicamente, ser enganado! Eu peço à tela para me mentir! Paguei, tenho direito a que me manipulem! Quero filmes que goste e/ou filmes que me façam sair cheio de energia para esta aventura que é a vida! Existem filmes que exageram na “perfeição” das suas situações? Ok, tragam-me alguns! Por favor! Não me importo de olhar para um ecrã que me diga como é que eu (e o resto do mundo) devia ser, mas não é! Isso é uma das coisas que eu procuro quando vejo filmes! E é também por isso que gosto tanto. E é também por isso que adoro a cena em que Henry fala ao telefone com o seu pai. Cena essa que, além de ser linda, funciona inesperadamente bem; Ewan McGregor surpreendeu-me! E já que falei nas actuações...Naomi Watts, com a sua interpretação sofrida e bem executada, podia até não merecer o Óscar, mas mereceu decerto a indicação. Quanto ao muito comentado Tom Holland...bem, na verdade não o achei tudo o que, por exemplo, Isabela Boscov disse dele. Mas não deixa de ter qualidade.
Enfim, O Impossível revela-se um filme belíssimo por tomar a opção de não mostrar o mal e concentrar-se em lembrar-nos de algo muito valioso que temos e que talvez seja até o mais valioso que temos: as relações com os nossos semelhantes. Em especial, com a nossa família. Lembremo-nos que, anos antes de o homem ter inventado coisas a que veio a dar valor (esculturas, quadros, músicas, filmes...), já tínhamos o mais antigo dos amores: o amor pela nossa família. Não estou a dizer que um amor é mais puro ou mais válido que outro; não quero ir por aí. A vida precisa de amor e não acho bem fazer distinção entre amores. Defendo que podemos – e talvez devamos – amar qualquer coisa; uma floresta com muitas árvores, um cão, a nossa família, a música, o cinema...não importa, desde que amemos! Se pudermos amar tudo isto, melhor ainda! Quem quiser que ame o que quiser; o amor em si é que é importante! Só não amem fazer os outros sofrer, por favor; isso já não me parece bem. Adiante...aproveitem a lembrança deste filme de como não há amor como, por exemplo, o amor de mãe (aquele abraço molhado foi ouro...*.*). Está bem, nem todas as mães são muito boas. E, sim, alguns progenitores tratam muito mal os filhos. Eu, quanto a isto, não me posso queixar, antes pelo contrário. Mas também temos o amor pelos outros. E isto inclui amigos, interesses amorosos, professores, conhecidos e tudo mais. E este filme não se esquece desse amor: na história mostrada, não se faz distinção entre países, raças e afins; todos querem ajudar as vítimas da desgraça a melhorar e a sobreviver. Todos se esquecem que podiam roubar tudo o que a onda não levou e preocupam-se em tratar pessoas cuja linguagem nem sequer entendem. Este filme preferiu expor o lado bom dos humanos. É uma exposição unilateral? Talvez. Mas ele teve liberdade para mostrar o lado bom. Foi o que fez. E eu agradeço.
E foi assim que, num recanto escuro, uma linda flor conseguiu nascer justamente no ano do anunciado fim do mundo. Não seria de esperar que ela sobrevivesse, pois não teve direito a luz. É que, nesse ano, as luzes dos holofotes apontaram para 9 concorrentes nos quais a pobre delicada flor não estava incluída. Porquê é difícil dizer, mas a verdade é que sem a luz dos holofotes, podia ter murchado ali, esquecida pelo mundo. Mas ela cresceu e viveu...pelo menos dentro de mim. E, na noite da premiação, quando os “super troupers” iluminaram os 9 concorrentes, a bela flor não se sentiu “blue”. Porque algures na “crowd” estava...eu!
Venham fazer parte da multidão que pode fazer esta flor sorrir!
Paulo, sempre sincero e humilde nas palavras e na forma de descrever o texto. Tbm adorei o filme :D
Hehe, valeu Andinhu...😁 bom saber que gostaste do filme!
Eu tenho este hábito de levar os filmes para o lado sentimental, mas acho que desta vez exagerei!😋 Este meu comentário foi quase um hino à vida, à felicidade, nem sei...mas que posso fazer? Estou numa altura da minha vida em que me sinto muito feliz. E adoro a minha mãe, por isso coloquei-me na pele de Lucas durante o tsunami. Cheguei a pensar em comentar o meu próprio comentário (!) a dizer que fui lamechas até dizer chega😏, mas não o fiz por falta de tempo. Mas o filme merece um comentário assim...*.* é uma pérola!