No final da década de 80, o terror ganhava um dos seus maiores ícones: O boneco Chucky, sendo que mais uma vez o gênero ganhava novo fôlego e se renovava, como foi também os casos de Halloween no final da década de 70, Pânico no final da década de 90, e recentemente Jogos Mortais, sendo que este último já está mais do que saturado, necessitando urgentemente deste processo de renovação. Baseado nos personagens criados por Don Mancini, entra em cena o produtor David Kirschner, que juntamente com o diretor de A Hora do Espanto Tom Holland, assumiram o projeto e levaram aos cinemas a história de um brinquedo, que após receber o espírito de um assassino que estava prestes a morrer, buscar vingança, aonde para isto, o mesmo deve encontrar uma forma de retornar para um corpo de carne e osso.
O suspense é tão bem construído que até hoje é considerado um pequeno clássico do gênero, se instaurando definitivamente com a chegada do boneco na casa de Andy Barclay (Alex Vincent). Objetos inanimados, quando lhe são conferidos vida, já são motivos de alta tensão e suspense garantido, imagina um brinquedo aparentemente inofensivo nas mãos de uma inocente criança, definitivamente não é a mesma coisa de um assassino comum, de carne e osso. Mesmo que uma possível trama como esta seja trabalhada de forma correta, um assassino 'normal' acaba por tornar-se, em algum momento, comum, diferentemente de um ser inanimado, como aqui, um simples boneco de uma criança, que a qualquer momento pode surpreender o público.
Após a morte de uma personagem, a tensão sobe drasticamente, onde o diretor abusa de tomadas escuras, utilizando-se de vários elementos que conferem um suspense legítimo a sua obra. A casa dos Barclays, onde se passa a maior parte da ação é bem aproveitada pelo diretor, que auxiliado por uma boa fotografia e uma imponente trilha sonora, transmitem um clima tenso a todo o momento, como se tudo estivesse prestes a explodir, aqui no caso, com a revelação que o brinquedo responsável pela morte da personagem citada. Uma cena em especial, que merece total destaque aqui, sendo considerada talvez o auge do suspense do filme, é a seqüência onde a mãe de Andy fica atrás da porta ouvindo seu filho conversar com o boneco, porém o astuto assassino percebe a sombra da mulher, e apenas se reserva a dizer suas 'falas de brinquedo' que é: "Oi, eu sou Chucky, quer Brincar?", em uma cena terrivelmente bem orquestrada por Holland, sensacional e de tirar o fôlego.
Outro ponto positivo do longa, é não revelar, desde o princípio, as intenções do vilão, bem como suas conversas com Andy, segurando de forma eficiente o mistério e a tensão, passando aos telespectadores uma sensação de ansiedade e inquietação, tendo em vista que, até mais ou menos da metade do filme, era desconhecido por parte do público a forma como o vilão atuava em seus crimes, bem como uma visão 'viva' do mesmo, tendo em vista que até o referido momento, apenas era mostrado o boneco imóvel. Todo o suspense e a carga dramática foram despejados de uma só vez na cara do público, em uma cena muito bem realizada e montada, passada na sala de estar da casa de Andy. Efeitos especiais bem desenvolvidos também colaboraram para uma maior aceitação do público, considerando que a inverossimilhança aqui é quase certa, caso não se construísse um perfeito arsenal de equipamentos que permitissem tornar mais ‘real’ a vida e a história do boneco assassino.
A cena citada agora a pouco, se trata de quando a mãe de Andy, após vários acontecimentos misteriosos, que acabaram lhe afastando de seu filho, resolve 'verificar' se o boneco possui vida ou não. A cena é uma das melhores já vistas neste gênero, tornando-se marcante pela forma como o diretor conteve a tensão, e lentamente foi descarregando-a, fulminando quando a mesma descobre as pilhas fora do brinquedo. Quando Chucky se revela ao público, com uma poderosa voz de Brad Dourif (de Mississipi em Chamas e Um Estranho no Ninho), o personagem enfim ganha uma personalidade, que ficaria marcada pelo seu sarcasmo e violência, sendo que o astro emprestaria sua voz ao personagem em todos os filmes da série.
O enfrentamento final é bom, mas poderia ter sido melhor. A presença de Mike (O responsável pela morte de Chucky em 'vida') juntamente com um parceiro estraga um pouco o clima familiar já imposto anteriormente. Seu personagem não possui o menor carisma, sem contar a sensação de total deslocamento em meio à trama. Mike e a presença de seu parceiro se mostram inúteis e previsíveis, mas apesar de erros comuns, como a falta de detalhes de como o boneco se movimentava pela cidade (detalhes estes que seriam ignorados totalmente após o segundo capítulo), este primeiro longa da saga do boneco é o melhor de todos. Se leva a sério a todo o momento, tendo em vista que o personagem era inédito e leques de possibilidades poderiam se abrir, focando a trama em um suspense pesado, o que erroneamente mantiveram nas suas duas seqüências, principalmente no terceiro capítulo, onde após 2 filmes de exposição do vilão, queriam que o público ficasse 'apreensivo' com o que poderia acontecer e blá blá, erros estes que foram parcialmente superados em 1997, com a Noiva de Chucky.
Brinquedo Assassino estreou em 11 de novembro de 1988, arrecadando R$ 33.244,684 milhões em solo americano e mais R$ 10.952,000 ao redor do mundo, totalizando uma arrecadação de R$ 44.196,684.
Revi ontem. É muito curioso observar os efeitos deste filme hoje, 27 anos depois. Aqui, levando em conta o caráter inedito da trama, o filme atém-se realmente ao terror e ao suspense, muito bem estabelecidos por Holland. A personagem Mike, de Chris Sarandon, como você bem disse, estraga um pouco o filme, tirando de nós aquilo que tanto aguardamos: o confronto dos Barcley contra Chucky. Inquestionável é a personalidade estabelecida por Dourif ao boneco, tornando-o um personagem clássico e imortal.