As esquisitices de Tim Burton talvez tenham alcançado o ápice com essa animação, que se não bastasse possuir semelhanças com sua personalidade sombria e gótica, apresenta um padrão totalmente reverso às belezas e delicadezas empregadas as demais animações. Ao invés de personagens dotados de beleza, com roupas exuberantes e características apreciáveis, Burton insere um punhado de seres estranhos, em sua maioria com membros em falta, quando não utiliza-se de animais asquerosos como aranhas e larvas para ‘sensibilizar’ e divertir o público. O que realmente é surpreendente é justamente o fato de tudo isso já ser elemento chave nas produções do diretor, que busca ressaltar suas tendências nada comuns, embora tenha, na maioria das vezes, funcionar. O universo de A Noiva Cadáver traz esse estilo altamente rebuscado á tona de forma completa, atingindo toda a história quanto personagens, todos munidos com semelhantes características.
Como de costume, o universo fantasmagórico de Burton é estrelado pelo seu melhor amigo Jhonny Deep e por sua esposa Helena Boham Carter, que aqui emprestam suas vozes aos protagonistas. É inegável que o clima, mesmo dark e bem down, é apreciável, fato este responsável pela construção e desenvolvimento de uma história pouco divertida, embora interessante. A personalidade dos personagens, em especial os pais de noivo e noiva, é excelentemente idealizada de forma que contrastam com a ingenuidade e a insegurança dos protagonistas, deixando que a trama se mostre balanceada e equilibrada, principalmente quando esta passa a ser focada no outro mundo e em toda sua riqueza de detalhes. O que ocorre é que esse mundo fantasioso que cerca os personagens já mortos se mostra bem menos interessante e chamativo que o mundo dos vivos, onde a concentração de foco e atenção do público esteja direcionada à relação de noivo e noiva, e não a apresentação de dezenas de personagens macabros.
O público acompanha o desenrolar da relação dos protagonistas de forma atenciosa, estando em estado de conhecimento inicial de suas personalidades e qualidades/defeitos, quando entra em cena a noiva cadáver. Tudo bem até aqui, porém o roteiro parte para um novo rumo que desagrada ao momento que se desvia do objetivo principal. Muitos minutos são perdidos com passagens desnecessárias neste mundo, que em nenhum momento se mostra ter a mesma força ou interesse da trama que se estabeleceu originalmente. A sensação é que Burton quisesse apresentar todo o seu aparato macabro, suas características únicas, além de toda a esquisitice comum a sua pessoa, deixando a história e seu desenrolar em segundo plano. As canções apresentadas são criativas, possui letras e melodias que desempenham eficientemente bem seu papel dentro do contexto do filme, pra não falar que seu conteúdo seja atraente ou bonitinho.
O que interessa para o telespectador é descobrir com quem o protagonista se casará, se será com sua noiva terrestre ou com a moçinha já morta. O interessante é que ambas são munidas de elementos que são impossíveis não serem apreciados, pois as duas aparentemente amam seu pretendente, e sofrem a cada investida do mesmo em busca da outra. A escolha é complicada e sem dúvida delicada, o que não deixa de ser um fator emotivo realmente forte e eficiente para um desfecho que é aguardado ansioso pelo telespectador desde os primeiros 20 minutos de projeção. Por isso as críticas em função de tanta enrolação sem explicação, com tanta apresentação de personagens secundários, que apesar de serem criativos, não existe o mesmo interesse, deixando que estes passem totalmente despercebidos pelo grande público que a essa altura do campeonato, já decidiu para quem torcer em relação ao casório do protagonista.
A Noiva Cadáver é um entretenimento raso, sem a mesma profundidade de outras grandes obras, não contando com personagens tão interessantes assim, bem como uma história que seja edificante, ou no mínimo legal de se apreciar. O mistério em torno da escolha do protagonista diante do casamento é sem dúvida o grande destaque dessa animação, que consegue prender e captar todas as atenções do público, que por muitas vezes são interferidas pela inserção de muitos personagens e passagens desnecessárias, que não apenas deixam a história mais cheia, como a perda do aprofundamento ser perdido facilmente. A trilha sempre inspirada de Danny Elfman, fiel parceiro do diretor, colabora para que tudo se manifeste de forma mais lírica e emocional, tornando muitas vezes o assombroso em belo. A sensação final é que o filme termina de forma brusca, rápida e sem um final mais marcante, o que não tira toda a criatividade idealizada e desenvolvida pelos realizadores da animação.
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