Todd Philips merece crédito pela ousadia na desconstrução da obra anterior, seja na narrativa ou estilo, numa pegada ainda mais lúgubre e melancólica. Uma pena que sua inexperiência com musicais tenha comprometido o resultado, com números avulsos e que não se integram organicamente à narrativa, dando uma impressão de estagnação aos eventos retratados. Ao menos continua tecnicamente soberbo e com atuações acima da média (Phoenix e Gaga). Mas tinha potencial para ser bem mais do que isso.

Essa prequência aproveita-se das "pontas soltas" do original para existir, porém a ausência de Roman Polanski é sentida, ficando longe da sua construção minimalista, atmosférica e aterrorizante. O bom elenco (sobretudo Julia Garner) ajuda a atenuar o aspecto genérico e caça níquel que produções como esta costumam ter, mesmo rendendo-se à clichês, jump scaries e correria na reta final. Não é ruim, porém é esquecível, diferente do remake de Suspiria lançado em 2018 (do qual dialoga, por sinal).

Um retrato sensível e honesto sobre uma família disfuncional, que não aceita o modo de vida da "família tradicional" imposto pela sociedade, mesmo que no processo muitas cicatrizes (físicas e emocionais) acometam seus integrantes. Somos todos imperfeitos e talvez o segredo seja saber disso e fazer o seu melhor, sem perder sua identidade no caminho. Naomi Watts e Brie Larson estão ótimas, mas é de Woody Harrelson o verdadeiro espetáculo, num dos melhores desempenhos da sua carreira.

Lanthimos retorna às suas raízes para explorar a natureza humana em toda a sua complexidade, lidando com temas socialmente sensíveis, como misantropia, abuso e dependência emocional, contando com o apuro técnico esperado e um elenco afiado e em perfeita sintonia. Como toda antologia, os segmentos oscilam em qualidade, mas aqui ao menos são sempre curiosos, subversivos e relevantes ao conjunto apresentado.