A Pequena Sereia é um dos filmes mais importantes da Disney, e mesmo que não se compare com outros clássicos animados como O Rei Leão e A Bela e a Fera, o filme da sereiazinha ficou na história pelo fato de ser o grande divisor de águas (desculpe-me pelo trocadilho) do tradicional estúdio: Anos antes tivemos um dos clássicos mais bobinhos da Disney (O Ratinho Detetive), e anos depois fomos presenteados com uma das maiores obras primas do mundo animado. Além disso, o filme marca o início de uma Disney mais leve e menos sobrecarregada, usando de uma técnica para contar suas histórias ainda mais mágica para conquistar o público, com canções mais animadas e uma paleta de cores mais variada.
Como conta a clássica e atemporal história, A Pequena Sereia é protagonizada por Ariel uma das filhas do rei dos mares, que tem uma voz maravilhosa e que é apaixonada pelo mundo dos humanos, mesmo nunca ter estado nele. Após uma briga com seu pai, a princesa acaba cedendo aos feitiços de Úrsula, uma poderosa bruxa do mar que lhe oferece uma proposta: Ariel ganha pernas e vira humana, porém terá que receber o ‘beijo do amor verdadeiro’ do príncipe em menos de três dias, caso contrário Ariel pertencerá a vilã para sempre. O problema é que a protagonista entrega sua voz á Úrsula e acaba tendo que lidar com as dificuldades de conquistar o coração de seu amado totalmente muda.
Comprovando que a forma Disney de contar histórias é a mais maravilhosa possível, a Pequena Sereia conta com uma narrativa segura e eficaz, que se divide em três atos perceptíveis: O primeiro, e mais encantador dos atos, é simplesmente perfeito já que o filme já prende a atenção do público rapidamente sem precisar ficar repassando motivações e acontecimentos, além de, desde já, criar uma personalidade jovial e apaixonante para Ariel – o que já é um feito, pois a maioria das princesas Disney não tem muita personalidade. O Segundo ato se inicia com a briga de Ariel com o pai e termina com a chegada de Úrsula á superfície, e mesmo não sendo tão brilhante quanto o anterior, continua o público interessado na trama. E o terceiro, e mais abrupto deles, passa rápido demais, deixando de saborear os momentos mais inspirados do clímax dando pouco espaço para o perigo que as situações carregam.
Se tornando cada vez mais um deleite para os olhos, a produção tem um visual arrebatador: Abraçando o estilo clássico de fazer animação, A Pequena Seria caracteriza muitíssimo bem seus personagens e todos eles são bem movimentados, isso tudo é bem encaixado no primeiro ato que se passa inteiramente dentro d’água, e assim nenhuma sequência aquática acaba soando artificial ou qualquer coisa do tipo, muito pelo contrário: O universo marinho é muito bem retratado pelos animadores, já que os cenários e os personagens (peixes e sereias) são bem coloridos e transmitem uma alegria orgânica e nunca exagerada. Além disso, é incrível ver como os responsáveis pela técnica souberam empregar a luminosidade que enfoca em sombras para dar mais profundidade a diversos momentos, em especial aquele número musical que se passa em meio a coleção de materiais humanos.
Infelizmente o roteiro é uma das poucas coisas que acabam tendo pontos fracos: Apesar de funcionar bem como adaptação e ainda dar aquele charme especial para a história, o texto peca em estabelecer um objetivo para Ariel (que, aliás, é tocante e bem trabalhado no primeiro terço do filme) que é ir para o mundo dos humanos pois é fascinada por tudo que é de lá, porém, á partir de certo momento o amor de Ariel por Eric acaba tendo mais espaço no roteiro, mudando completamente as motivações que antes moviam a ‘garota’ (e não posso dizer que não fiquei desapontado a não ver a protagonista se encantando ainda mais com o mundo humano quando está nele), mesmo com esse defeito o script mantém o ritmo bom e alegre do filme, e por isso a história dá a impressão de ser rápida demais: A história não é tratada de forma atropelada e sem cuidado, porém ela acaba soando pequena demais – ao menos para os mais crescidos.
A Pequena Sereia ainda conta com uma das galerias de personagens mais encantadores e inesquecíveis dos clássicos Disney: Ariel é uma das poucas princesas animadas realmente interessantes e bem desenvolvidas (quem não se lembra das personalidades enfadonhas e comuns de Aurora ou Branca de Neve) que teve a chance de habitar seu filme: Carismática, divertida e romântica, a personagem título encanta por causa de seus sonhos complexos e que frequentemente entram em conflito com seu pai e o restante da população aquática. E mesmo que o príncipe não seja um dos melhores personagens presentes no longa, também não compromete, já que tem uma personalidade forte e compatível com a história (além de não ser um NADA, como em Cinderella ou em Branca de Neve). Úrsula é um ponto excelente também: A vilã representa ameaça constante, e ainda consegue divertir por sua total falsidade e perversão – até mesmo é possível fazer uma comparação com as “madames ricas e controladas pela industria” que habitam o mundo real, já que seus movimentos, aparência (?!) e forma de falar são bem semelhantes. O destaque entre os personagens é, sem discussão, para os coadjuvantes que conseguem divertir sem tirar o brilho de Ariel: Sabidão é simplesmente hilário, dizendo as piadas mais engraçadas e divertidas de todo o filme.
O grande ponto alto de A Pequena Sereia é sua trilha sonora inesquecível (uma das melhores da Disney, e olha que o estúdio tem muitas trilhas ótimas em seu repertório): Os números musicais são contagiantes e fantásticos, transmitindo todo o espírito de libertação e imaginação que o filme tem, e até mesmo a trilha orquestral tem alguns momentos marcantes. E mesmo com algum problema ou outro, A Pequena Seria se une aos filmes que me surpreenderam (faziam, no mínimo, sete anos que eu não via a animação), já que antes da “projeção” ter início eu pensava que estava indo assistir mais um daqueles filmes envolvendo princesas e príncipes românticos, com animais falantes e números musicais coloridos. O fato é que ele se une a ‘A Bela e a Fera’ (Mulan é uma princesa?) lista de animações de princesas que eu realmente gostei, deixando de ser apenas “Mais um”.
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