O SUPER-HERÓI MAIS ECLÉTICO DO UNIVERSO D.C. COMICS GANHA O FILME MAIS SEM GRAÇA DO GÊNERO E O PIOR DE 2011
Tudo bem que os filmes de super-heróis estão em alta (qualquer dia vão filmar o Aquaman) desde a virada do século e que após o muito bem sucedido Batman Begins (idem, 2005) a moda é investir na gênese, na origem destes personagens tão familiares e conhecidos do grande público, na tentativa de nos apresentar qualquer coisa nova a respeito deles. Mas no geral, estes filmes ‘’origens’’ são bastante irregulares. O recém citado Batman Begins é um ponto de partida digno para a versão definitiva dada ao Homem-Morcego pelo ótimo Christopher Nolan. X-Men Origens: Wolverine é extremamente problemático em sua narrativa, especialmente em sua proposta básica que era apresentar algo diferente daquilo visto em seus flashbacks nos filmes dos mutantes do Dr. Xavier, mas ainda traz uma boa dose de diversão (muito por conta de seu personagem-título e seu intérprete). Já O Homem de Aço tornou-se o filme mais odiado de 2013 (justo ou não). O Capitão América – O Primeiro Vingador faz direitinho seu papel, mas o personagem almofadinha e xarope não ajuda muito. Este Lanterna Verde (The Green Lantern, 2011) até que tenta se sustentar, mas falha em tudo o que se propõe.
Uma coisa básica para a concepção de uma adaptação bem sucedida é entregá-la nas mãos de alguém familiarizado com o universo a ser retratado e com a obra original. De preferência, um fã. Já imaginaram o que seria de O Senhor dos Anéis sem Peter Jackson no comando? Ou a trilogia do Batman sem Tim Burton e, mais recentemente, Christopher Nolan? Ou mesmo Watchmen sem Zack Snyder.? X-Men sem Bryan Singer? Homem-Aranha sem Sam Raimi? Bons e bem sucedidos exemplos não faltam. Martin Campbell não só não está nenhum pouco familiarizado com a obra Lanterna Verde dos quadrinhos, como não escondeu de ninguém só estar ali pelo retorno financeiro garantido. No mesmo ano em que um figurão da indústria disse que ‘’enredo não importa no cinema de hoje. Apenas investimentos pesados no marketing e nos efeitos especiais’’. Imbecil. Se isso fosse verdade, Lanterna Verde seria um sucesso.
Mesmo não sendo um dos super-heróis mais populares de todos, o Lanterna Verde talvez seja aquele que possui o universo mais rico, vasto e abrangente, pois o Lanterna é só um dentre 3600 outros, vindos de todos os cantos do universo. Sua cosmologia permite sub-tramas que podem ocorrer nos mais derivados cenários, desde uma lanchonete em uma cidadezinha pacata do Arizona até uma mega-batalha intergaláctica. Além disso, existe toda uma singularidade em torno da representação das cores das luzes dos anéis dos Lanternas. O verde abastecido pela força de vontade de seu portador. O amarelo que se alimenta do medo do oponente. O azul da esperança. E por aí vai. Pena que nada disso seja bem trabalhado pelo roteiro, que se limita aos conflitos mal resolvidos de Hal Jordan (Ryan Reynolds) e consegue limitar os cenários a uns poucos ambientes espaciais e lugares repetitivos na Terra, e ainda trate todo o mote de conflito do protagonista de forma tão rasa e covarde. É quase inacreditável que um roteiro tão pobre como este tenha necessitado de quatro mentes para pensá-lo e oito mãos para ser escrito (Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg).
Com um roteiro tão fraco em mãos, seria mais inteligente o diretor buscar soluções visuais para as questões e conflitos estabelecidos para seus personagens. Porém, não é isso o que acontece. Roteiro e direção optam por longos e constrangedores diálogos que não levam a lugar algum, recheados de lições de moral sem graça, como numa sessão de auto-ajuda que despertam no espectador uma vontade quase incontrolável de cometer suicídio. A cena de Hal e sua namoradinha conversando na sacada é um convite irrecusável ao tédio e ao sono profundo. Sem falar na falta de lógica de Hal não temer voar tão alto até perder os sentidos, mas congelar de medo na hora de apertar o botão do ejetor. O medo causado pelo trauma da morte do pai (também piloto, morto em um vôo de teste) é tratado de forma tão pueril, que não é possível entender ao certo do que realmente Hal tem medo. De voar não é, afinal, ele é um ótimo piloto. De morrer, tampouco, pois Hal desafia a morte quase que diariamente. Deve de ejetar-se mesmo. O filme ainda tenta investir no humor a todo instante, mas assim como em suas demais vertentes, falha morosamente. Pode ser que arranque um discreto riso na cena em que Hal conta para seu amigo que o anel foi passado para ele e este amigo pergunta se um alien moribundo havia lha pedido em casamento. Mas, mesmo assim, é um humor fraco e que em nada engrandece a ‘’obra’’.
Embora pessimamente aproveitado, o elenco de Lanterna Verde é bom. Aliás, muito bom. Geoffrey Rush (Piratas do Caribe; O Discurso do Rei) e Michael Clark Duncan (À Espera de Um Milagre; O Demolidor – O Homem Sem Medo) dublam Tomar-Re e Killowog, respectivamente. Mark Strong (Robin Hood; Kick Ass – Quebrando Tudo), que ao lado de Micheal Fassbender é um dos atores em franca ascensão em Hollywood, encarna de forma satisfatória Sinestro, o personagem mais legal da saga. Peter Sasgaard (A Chave Mestra) faz de Dr. Hammond o personagem mais interessante do filme e que poderia ser a saída para muitos dos problemas do longa, mas é abandonado quase por completo conforme nos sproximamos do clímax. O problema decai mesmo é sobre Reynolds. Reynolds não é tão mau ator como diz sua cinebiografia – que conta com atrocidades como o remake de Terror em Amityville, Blade Trinity, R.I.P.D : Agentes do Além e uma infinidade de comédias românticas de décimo terceiro escalão -, pois já demonstrou segurança em filmes como Enterrado Vivo e A Última Cartada (filme massacrado pela crítica, mas que eu acho bem interessante). Já passou da hora de Reynolds abandonar seu posto de galã enfadonho e mal sucedido e escolher melhor seus papéis e os filmes nos quais atuar. De preferência em algum que não necessite da exposição de seu corpo. Nada contra, mas notem que parece estar no contrato dele que todos os seus filmes possuam pelo menos duas cenas em que ele apareça em close sem camisa. Não vejo nada demais em atores e atrizes explorarem seus belos corpos – existem diretores que sabem muito bem como filmar seus musos e musas –, mas quando passam a depender apenas disso a coisa complica.
Nem tecnicamente o filme se salva. Os efeitos especiais, cada vez mais fortes e impressionantes neste tipo de filme, aqui são precários e nada satisfatórios. Se compararmos, por exemplo, com O Homem Aranha de 2002, veremos que não há muita diferença entre ambos. E isso (efeitos especiais) é importantíssimo para Lanterna Verde, dado seu universo, que exige muito mais do que qualquer outro filme de super-herói pela quantidade de personagens exóticos e lugares extraordinários. Embora seja preciso salientar a tentativa de retratar os sistemas e planetas visitados e habitados pelos Lanternas, bem como a cúpula dos Guardiões, também se faz necessário frisar o quão falho este esforço se fez, não só pela poluição visual de cores e objetos artificiais, mas pela falta de identificação da equipe com aquele cenário. E nem vou gastar muitas linhas para falar do quão ruim foi a escolha de Paralaxx como vilão central e sua construção ridícula, fazendo dele não muito mais do que um primo distante e mal feito do Geléia dos Caça-Fantasmas. Mas valeu o esforço.
No fim das contas, Lanterna Verde se mostra uma adaptação falha, um entretenimento fraco e um filme ruim. Ficamos na dúvida se torcemos por uma continuação em mãos mais capazes ou se rezamos para abandonarem de vez o personagem. De um jeito ou de outro, o estrago já está feito. E não foi pequeno.
Cara eu vou te ser sincero... Eu detesto essa nova leva de filmes de super heróis, tudo caça-níquel... Da Marvel o único que realmente presta pra mim é "Homem de Ferro" o resto é tudo descartável... O universo do Lanterna é tão legal e os produtores com fome de verdinhas estragaram tudo e olha que acho que o Reynolds nem tem tanta culpa dessa vez... Uma das únicas coisas que salva essa bomba é a deliciosa Balke Lively pois até os efeitos visuais estão precários... De toda forma ótimo texto caro Cristian...
Cara um dos piores filmes baseados em quadrinhos em todos os tempos ao lado de abominações como Batman & Robin e Mulher Gato
Homem de Ferro é bem fraquinho. O melhor, independentemente de suas intenções comerciais, a meu ver, ainda é Os Vingadores.
Muito obrigado a todos. Assisti na época por falta de opção mesmo e descobri que ganharia mais indo dormir...