Um filme que começa mal, mas acaba muito bem.
Não costumo usar citações de usuários/editores nos meus comentários nem sei até que ponto isso é ético. Mas em relação a este filme, gostaria de o fazer com a lupinha do Thiago Macedo. Devo admitir que ele funcionou como um profeta da maneira como eu percepcionaria o filme. Para resumir parte da minha impressão, ele usou uma expressão muito apropriada: “Avatar é uma coisa esquisita”. E, com efeito, é. Avatar é um só filme, mas parece muitos. Ou melhor, parece uma mistura absurda de uma data de filmes. Lembra Vida de Insecto, lembra Star Wars, lembra Matrix, lembra O Ataque do Dente de Sabre…lembra Titanic, até! Apesar de eu ter gostado do filme, não tenho dúvidas: ele é uma grande confusão!
Quando vi um trailer deste filme, fiquei meio desanimado. Afinal, a temática do filme parecia-me interessante, mas o trailer que vi fazia-o parecer uma espécie de versão modificada de As Crónicas de Narnia. Então, decidi que veria o filme com baixas espectativas, e que o maior objectivo da sessão seria voltar a ver o mais possível Michelle Rodriguez, a minha querida Ana Lucia (pensavam que eu ia escrever um comentário de um filme em que ela entrava sem comentar isso? Too bad…). Então, na noite em que me convidaram para ir ao cinema ver este filme, fui com a intenção de a ver na tela.
Durante (mais ou menos) a primeira hora de filme, as minhas baixas expectativas iam-se confirmando. E não era só por ver pouca Ana Lucia, não. O filme tinha um começo meio eu-já-vi-isso-em-algum-sítio e havia muitas coisas para compreender em pouco tempo. E essas mesmas coisas pareciam um pouco forçadas. Fiquei com o pensamento que (bem disse o Thiago) “A trama é estapafúrdia”. Mas lá dei um desconto ao filme. Afinal, era de ficção. Além disto, as personagens não pareciam grande coisa. Como se já não bastasse a senhora chata que protesta em relação ao recrutamento de Jake Sully, o próprio Jake Sully não cativava muito, nem mesmo quando passava para o seu avatar. Aí, tornava-se um tipo com cara de cavalo, rebelde e até um pouco insensato. Exemplo disso é quando os seus colegas da expedição na floresta lhe diziam para ter cuidado com o que ele fazia e ele ignorava.
No entanto, foi desta falta de cuidado que nasceram algumas cenas que me cativaram um pouco mais. Sempre gostei de filmes de terror em que animais atacam humanos, pelo que o aparecimento do rinoceronte esquisito e o ataque da mistura de pantera nebulosa com anta me divertiram imenso. Deram um novo fôlego à história, para além de as criaturas serem curiosas, tanto as da fauna como as da flora. Achei esses seres muito bem pensados, como seres de outro planeta parecido com o nosso, que teriam forçosamente de ser parecidos com alguns dos nossos seres, mas também com as suas particularidades. Para além de estarem muito bem feitos e com cores vivas. Sim senhor, houve criatividade!
Infelizmente, estas cenas não tomaram muito tempo no filme. Depois de uma também divertida cena à Cães Assassinos, o personagem principal conheceu então uma Na’vi: Neytiri. Aí, o filme tomou outras rédeas e passou a mostrar principalmente a história de Jake Sully (agora Jakesully) na comunidade Na’vi, a aprender a ser um deles. Durante um bom tempo, a cultura Na’vi, apesar de extremamente original, desde o deus que lhes arranjaram até ao seu próprio idioma, não trouxe nada de grandioso ao filme. Só a velha história da pessoa que tem de se adaptar a uma nova vida, para além de que sempre Jakesully fazia alguma tolice ou conseguia dar mais um passo em frente para se tornar um dos Na’vi, Neytiri, que até aí não tinha sido propriamente simpática, reagia com um daqueles sorrisos, como quem diz “Ele não é tão mau como eu pensava…”(eu já não vi isso, por exemplo, em Ratatouille?). Pois é: como disse o Thiago Macedo, este filme está “cheio de clichês insuportáveis”. Portanto, até daí a algum tempo, a única coisa que estava realmente a valer no filme era a minha Ana Lucia, as cenas de “monstros” e a experiência visual. É verdade, mesmo não tendo visto o filme com óculos 3D, devo dizer que a animação computadorizada do filme é magnífica. Criaram um mundo muito colorido e bem feito, com uns Na’vi muito reais, que se chegavam a parecer com um índio humano…azul. Pena que eu precisava de algo mais.
Mas o filme lá conseguiu dar uma grande volta, fazendo com que Neytiri passasse a olhar para a sua tarefa de ensinar Jakesully com seriedade. Isso começa mais ou menos na altura em que ele mata um “cão” selvagem e pede perdão, e ela diz: “Uma morte limpa. Estás preparado!”. A partir daí, podemos conhecer ainda melhor a cultura Na’vi sem clichês e afeiçoando-nos finalmente aos personagens. E o acasalamento de Jakesully e Neytiri consolida o nosso laço com eles e com o povo Na’vi. A partir daí, passamos a estar do lado deles, ou seja, contra a nossa própria espécie! Pode? Ah, é verdade: também há espaço para um pouco de solidariedade para com Jake Sully (humano), quando ele sai de um corpo bacana para um corpo com o qual não pode andar. Bom, o certo é que, já dizia o Thiago “A trama(…)demorou a me pegar. Mas me pegou!”.
E mal eu fui fisgado pelo filme, a situação azedou: os humanos decidiram apelar para a destruição. A batalha que se segue foi seguida por mim com muita agitação, pois tinha passado a apoiar ferozmente os Na’vi, em especial Jakesully e Neytiri. Não queria mal a nenhum deles, e torcia para que eles não morresem. Muitos devem ter morrido nessa batalha, mas eu estava sempre concentrado nos que sobravam. Para além de a batalha parecer assustadoramente real, com bombas bem ameaçadoras. A partir daí, tudo o que acontecia no filme passou a acontecer a um ritmo alucinante, com o qual eu era contagiado. Os últimos (mais ou menos) 45 minutos de filme, portanto, passaram a voar para mim, e gostei de tudo o que vi daí em diante. Pena que a Ana Lucia se deu mal outra vez…(;_;)
No fim de contas, Avatar é um filme que, apesar de ter uns quantos momentos chatinhos, acaba por compensar com cenas de emoção à flor da pele. E, mesmo que não se goste de todo da aventura, a experiência visual também vale a pena (imagino, então, com óculos 3D…). Usando mais uma vez as palavras do Thiago, “A trama(…)demorou a me pegar. Mas me pegou!”. Foi assim que aconteceu comigo. Só que a mim, o filme fisgou-me ainda com mais força, ou não tivesse eu dado esta nota superior à do Thiago…
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