O subestimado diretor John Hillcoat, já havia concebido um interessante faroeste australiano e um filme pós-apocalíptico que se assemelha a um road-movie revestido de conto de terror antes de se encarregar de Os Infratores (Lawless, 2012). A impressão que deixa é a que soube manter uma mão firme que mistura elementos de gênero para alcançar um resultado mais promissor e intrigantemente interessante. Assim sendo, temos em nossa frente uma obra peculiar de nossos tempos, sim, a genialidade com qual ela constituída é difícil encontrar por ai.
Basicamente é, vilarejo, dominação, revolta, violência. Os irmãos Bondurant são o centro da historia, eles prosperam no contrabando de álcool perante a violência dos grupos dominadores da região, e pouco a pouco a fama se alastra, levando assim um investigador com ares de psicopata para a cidadezinha determinado a desmascarar a origem do negocio e acabar com o grupo, não importando até onde tenha que ir.
Tudo se configura com trejeitos de filme gangster onde o poder é disputado com violência que chega sorrateiramente e suspiros de faroeste brutal onde a cidade é grande demais para mais de um, claro, revestindo a essência do filme, o tratado e estudo do mito na historia, o homem comum se tornando lenda. E Hillcoat determina quem é quem, o fora da lei que vira herói (este nós já conhecemos, é Jesse James?) devido ao boca a boca que se alastra ao seu respeito, construindo assim as lendas infindáveis, mas mesmo assim são atribuídas a um bandido, um homem, ser humano igual a qualquer outro. Sua mística, que lhe é natural, também fortalece o mito.
Aqui, trata-se tudo isto de modo tão belo que determinados defeitos desaparecem. Ao final há a concretização que define a obra como estudo do imaginário popular acerca das historias sem testemunhas, os três irmãos lendários não pertencem ao novo tempo, seu negocio não faz mais sentido agora, surgem as esposas, em seguido os filhos, a família é constituída assim como em qualquer outro grupo social. Mas a passagem concreta é quando o líder, personagem de Tom Hardy, caminha distante e então cai num lago bêbado, momento de tensão, e ele ressurge. No fim de contas foi a pneumonia que o levou sem lhe dar chances.
De tudo que se diz contras Lawless, boa parte é verdade. Ritmo narrativo cambaleante, tratamento (e posicionamento do espectador) do espaço ineficiente, desenvolvimento dos personagens carente e mais outros conceitos cinematográficos são um tanto quanto inocentes na obra, mas aquela cena final retira qualquer queixa, pois não é a humanização do criminoso e sim do mito, da lenda popular, e nada mais importa para Hillcoat. São poucos os textos terminados desta maneira, mas, obra-prima.
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