"Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades."
Essa frase sempre foi a bússola moral do Homem-Aranha em todas as suas versões, mesmo quando não dita explicitamente. A trilogia de Sam Raimi tinha a frase dita em um ótimo diálogo entre Peter (Tobey Maguire) e seu tio Ben (Cliff Robertson) sendo seguida pela emocionante cena da morte do personagem de Robertson. Já nas duas adaptações comandada por Marc Webb, não temos mais a frase explicitamente ali, mas adiciona-se à uma nova cena de morte (sem emoção alguma) de Ben (aqui Martin Sheen) a morte de Gwen Stacy (Emma Stone [suspiros...]), o segundo grande divisor de águas na trajetória do herói. Quando a Marvel Studios entra na brincadeira, até então comandada unicamente pela Sony, e entrega o herói para ser levado às telas por Jon Watts, suprime-se a necessidade de mostrar a morte do tio de Peter uma terceira vez, apenas precisamos saber que ela ocorreu. E a frase, novamente, não é dita de forma explícita. Assim, surpreende que Homem-Aranha: De Volta ao Lar seja a primeira vez onde realmente sentimos o quanto pesam as responsabilidades vindas de seus poderes na vida de Peter Parker.
Eu sou apaixonado pela trilogia de Raimi (sim, mesmo pelo terceiro filme). E gosto bastante do segundo de Webb (o primeiro podia nem existir, por mim). Mas enche os olhos ver o Peter Parker de Tom Holland precisando abdicar de uns momentos ao lado da garota que ama (a Liz de Laura Harrier) para salvar o dia. Enche os olhos aquela cena fundamental em que herói e vilão (o Abutre de Michael Keaton, sensacional e, possivelmente, melhor vilão da Marvel nos cinemas até aqui) conversam num carro, ambos cientes do que representam um pro outro, mas cientes também que ao Peter se envolver com Liz, possuem novas responsabilidades. E, mesmo amando o amigão da vizinhança, enche os olhos ver o protagonista não acabar com a garota simplesmente porque as prioridades são outras, as vezes umas que nada de prazer lhe trarão (pelo contrário), mas que ele precisa abraçar, simplesmente por ser o único capaz de fazê-lo. Porque muito em Raimi era sobre Peter e Mary Jane (Kirsten Dunst). E muito em Webb era Peter (Andrew Garfield) e Gwen. Mas tudo aqui é unicamente sobre Peter Parker e Homem-Aranha.
É uma abordagem toda nova do herói nos cinemas. Admito que certas coisas não me agradaram de cara, o uniforme tecnológico e o amigo (Jacob Batalon) que descobre a identidade secreta do Aranha, por exemplo. Mas com o tempo a tendência é essas coisas se justificarem e podermos nos habituar a elas ou ao menos relevarmos elas confiantes em um futuro promissor para o herói no universo cinematográfico Marvel. O primeiro caso, amadureci a opinião e consigo apreciar a ideia de um Peter Parker que em meio a autodescoberta, precisa perder as facilidades de um uniforme high tech para aprender que um herói se constrói além daquilo ali, quando ecos do diálogo entre o Capitão América e o Homem de Ferro (Chris Evans e Robert Downey Jr.) em Os Vingadores se fazem ouvir pelo cinema. Já o segundo, relevo pelas promessas do futuro.
Porque um futuro promissor se avizinha no horizonte. A abordagem cheia de humor de Watts e da Marvel nos cinemas se encaixa bem a um herói que sempre usou o humor não só como válvula de escape, mas como uma arma em suas lutas. O tom de coming of age, das descobertas da vida, casa demais com um herói em formação (e as referências aos marcos do gênero ao longo do filme são inspiradas). E, finalmente, podemos ver um longa da Marvel em que, mesmo tudo descambando pras explosões de uma luta entre herói e vilão no fim, a coisa segue no íntimo deles e transpira ameaça de verdade (para ambos os lados e para os que são próximos a eles). E há Holland, finalmente, o Homem-Aranha ideal para as telonas. Se Maguire e Garfield, cada qual com suas qualidades, jamais foram unanimidades, o jovem (sim, dessa vez Peter Parker parece realmente jovem!) ator inglês chega para acabar com isso e só merecer elogios.
Por ser a terceira abordagem do herói nos cinemas em apenas quinze anos fica difícil se apegar de maneira confiante dessa vez, mas não sou de disfarçar, então azar: mal posso esperar para ver as novas aventuras de Holland como o Aranha!
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