Aos moldes de figuras como William Hale, estruturou-se, em torno do povo Osage, uma sociedade corrompida. Por conta disso, mesmo abastados, os nativos ainda eram vistos como cidadãos de segunda classe. Scorcese acerta ao evidenciar que a coerção contra os Osage foi além dos assassinatos, passando por um lento processo de aculturação. É poética a cena em que Mollie se lembra do alerta de sua irmã sobre a degeneração de seu povo, enquanto a câmera aponta para os pálidos rostos de seus algozes.
A condução de Scorsese e a atuação do trio principal é uma verdadeira aula de direção e atuações, que mesmo na sua longuíssima duração consegue nos manter conectados com os acontecimentos e a resolução da tentativa branca do genocídio do povo Osage sempre em prol de petróleo, dinheiro e poder, resultando na afirmação do FBI em um ótimo resumo da formação do país no início do século XX.
Scorsese repete o modelo dramatúrgico, visto em "O Irlandês", de análise da lealdade, com base numa triangulação de personagens capitaneada por um subalterno não muito inteligente dividido entre um velho, poderoso e aparentemente dócil gângster e uma pessoa com quem mantém algum vínculo afetivo. O contexto histórico, o cenário e os resultados mudam (estes, nem tanto), há experimentos diferentes (mais aqui do que no anterior), mas a força e e contundência dramática permanecem incólumes.
Martin Scorsese é daqueles diretores que conseguem imprimir uma identidade visual única para seus filmes, além de temáticas recorrentes, como a busca por um suspense psicológico com personagens gângsters, além de muito acuro por trás das câmeras. Assim, "Killers" não deixa de ser emblemático, com o diretor aos 80 anos e em plena forma, entregando cinema de qualidade.
Tecnicamente incrível, o longa tem vários requisitos que se alinham ao Oscar, inclusive com atuações muito fodas.