De tempos em tempos, parece que cada geração precisa de uma espécie de filme. Anos 70 por exemplo com a quebra da era de Ouro de Hollywood, inúmeros diretores naquela década definiram novos padrões e estabeleceram paradigmas a serem seguidos e conservadorismos a serem quebrados. Ford Coppola, Friedkin, George Lucas, Allen e vários outros gênios que eu poderia ficar horas citando aqui deram novos rumos a 7ª arte e abrangeram um certo requinte e glamour a marginalização da época. Vieram os anos 80 e um pouco disso mudou com a chegada dos 'brutucus' e surgiu também um tal de "Blade Runner", dando um gás novo ao gênero de ficção, fato que Ridley Scott já havia feito anteriormente com "Alien". Nos anos 90 vem Spielberg com seu "Jurassic Park", aparece também "Um Sonho de liberdade" e uns certos irmãos Wackowski com seu revolucionário "The Matrix"... Antes deu ser crucificado, de maneira alguma estou comparando "The Fast and The Furious" com nenhuma obra citada até aqui, só digo que ele não poderia ter surgido em outra época, ele surgiu quando precisava surgir, em pleno inicio dos anos 2000...
Deixando bem claro também, que não estou afirmando que a geração 00 seja alienada ou demente, mas o tal do "tunning" estava no auge, moda total entre os alucinados por carros envenenados, não que 'tunar' o carro não ocorresse em décadas passadas, mas nos anos 2000 isso era ostentação total, no mundo todo surgia os hoje já frequentes 'encontros de som' e todo tipo de evento que envolvesse carros e mulheres seminuas. O já renomado roteirista e agora diretor David Ayer não sabia, mas estava criando uma mina de ouro após se inspirar em um artigo escrito por Ken Li (artigo Racer X) em uma revista norte-americana no ano de 1999. Com auxilio de Gary Thompson e Erik Bergquist, Ayer entrega uma história totalmente clichê e batida, mas que aliada a ótimos efeitos visuais, trilha sonora extasiante, edição e montagem frenética e fechando com jovens até então desconhecidos, porém extremamente carismáticos o filme marcou época e virou expoente para o mundo todo...
Como mencionei o roteiro é o mais trivial possível; policial se infiltra em uma gangue para prender os líderes criminosos. A única diferença é que aqui saí as drogas, armas e bebidas e entra peças para carros e equipamentos eletrônicos e de som automotivo. Peças muito caras. Funcionou? Funcionou! E como! O quarteto principal possuía uma química e timming absurdos e era impossível não se deliciar com as situações que os mesmos eram envolvidos. Claro, não há tempo para desenvolvimento aprofundado da personalidade de cada um, mas tudo é lançado de forma razoável. Sabemos que um passou um longo tempo preso, que outro é órfão e por aí vai. O quarteto principal não poderia ter sido melhor, em franca ascenção; Vin Diesel, Paul Walker, Michelle Rodriguez e Jordana Brewster ditam o tom da narrativa e enredo. Contamos com outros bons coadjuvantes que não tiveram tanta sorte assim posteriormente em suas carreiras como por exemplo Matt Schulze e Rick Yune, mas que aqui funcionam para o que é proposto.
Os efeitos visuais para época faziam qualquer adolescentes escorrer baba pelos cantos da boca... A primeira vez que o nitro e turbo são liberados e somos introduzidos pelo interior do carro é menção para orgasmos múltiplos. As perseguições e as corridas clandestinas são dignas de "Bullitt", sem exageros dessa vez. Obviamente meu caro, não vá esperando absorver diálogos complexos e linguagem contemporânea, aqui o lance são carros, juventude sem limite e infelizmente as mulheres são artigos de luxo e sua exibição surge um pouco gratuita e meras figuras decorativas, a excessão é claro de Mia e Letty. Não há muito conteúdo, mas a ação é frenética a ponto de não comprometer o resultado final. Tudo isso não funcionária sem a excelente direção de Rob Coen, diretor responsável por outros bons filmes de ação como "Dragão - A História de Bruce Lee", "Coração de Dragão", "Daylight", "Sociedade Secreta" e "Triplo X". Seus últimos trabalhos não estão a altura desses mas "Velozes & Furiosos" é dirigido em forma de videoclipe e sua edição/montagem frenéticas fluem de forma excelente, garantindo o sucesso do longa.
Concorrendo a vários prêmios em sua época de lançamento como por exemplo o MTV Movie Awards outro tópico que se sobressaiu foi a trilha sonora, assinada por Brian Wayne Transeau, ela conta com muito Nu Metal, Hip Hop, Pop e Eletro Music, delírio para os jovens. Como sempre a franquia não foge dos protocolos padronizados aos filmes que rendem milhões de verdinhas para os cofres dos estúdios e produtores: As continuações. O segundo filme é uma continuação direta dos eventos do primeiro e o único que segue a mesma forma original, saindo Vin Diesel e entrando Tyrese Gibson, visto que Diesel achou melhor assim, para dar mais veracidade a trama. Infelizmente, a franquia se tornou um extremo caça-níquel e a preocupação maior hoje é somente o lucro. Do 3º episódio em diante o rumo tomado é digno de Michael Bay e enquanto gerar lucro, acredito que os lançamentos não serão cessados. Pra se ter uma idéia, o último filme lançado, o episódio 6, teve um custo em torno dos 150 Milhões de Dólares e ao redor do globo teve bilheteria de quase 800 Milhões de Obamas...
Carros, mulheres, adrenalina e diversão. Doa a quem doer "Velozes & Furiosos", marcou época, cravou seu nome na cultura pop norte-americana e até mesmo mundial. Cumpre o que propõe e mesmo que Vin Diesel tenha se tornado ator de um filme só, aqui sua inexpressividade garante 2 horas de diversão sem compromisso. Quando ao final do primeiro racha e Dominic Toretto vê Brian O'Conner com um sorriso largo na face de bobo alegre, ele logo o questiona: "Do que você está rindo?"... E Brian logo responde: "Eu quase venci você"... Quem nunca quis ter um Skyline GT-R R32 após assistir esse filme que de um soco em minha face...
Então escolha o lado menos fotográfico, caro Lucas!!! Há, há...
Nunca fui fã de carros tunados e filmes desse gênero. Concordo que esse filme é bom (nota 6 pra não ser reprovado) mas é chato pra caralho. Pra se ter uma idéia, prefiro 60 Segundos. Mas o texto, está excelente. Define muito bem a representatividade do filme na época e seus pontos fortes e fracos.
Poxa Cristian você deve ser o primeiro, kkkkkkkkk!
Fiquei feliz que você gostou do texto, a enxurrada de derivados que vieram depois desse nenhum presta, mas fato é que pra época ele marcou bastante....