“Srta. Everdeen, são as coisas que mais amamos que nos destroem.”
Se já era admirador da saga Jogos Vorazes após os dois primeiros filmes da série, esse Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 só veio para confirmar essa admiração ao alçar a adaptação da obra de Suzanne Collins a um patamar de maturidade e confiança no espectador que poucos blockbusters de hoje em dia se dão ao luxo de mirar. Assim, se a divisão do capítulo final da história de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) em dois filmes possui um claro propósito comercial, é gratificante perceber como isso é utilizado para aprofundar psicologicamente os personagens e a trama ao ponto de praticamente não recorrer a ação nesse filme que serve como preparação de terreno para o desfecho que, aí sim, promete ser de tirar o fôlego.
Estabelecendo-se cada vez mais como um drama melancólico do que como uma aventura juvenil, essa primeira parte de A Esperança joga sua jovem personagem em um mundo colorido quase que exclusivamente pelo cinza – e é interessante notar como Effie (Elizabeth Banks) que surgia no primeiro filme como uma personagem extravagante e colorida aparece aqui toda vestida de cinza, estabelecendo apenas pelo contraste a situação psicológica da personagem – e habitado por seres de semblante entristecido. Assim, não é de se estranhar que em nosso primeiro contato com Katniss ela esteja acuada em um canto escuro aos prantos após mais um pesadelo. Como a própria personagem diz a certa altura, ela não queria nada daquilo para ela, que é apenas uma adolescente que por direito deveria estar mais preocupada com suas paixões juvenis do que com o futuro de toda uma nação. Assim, vê-la prestes a se quebrar apenas reforça a força da personagem ao assumir gradativamente o seu papel fundamental em uma guerra cada vez maior entre os Distritos e a Capital comandada pelo Presidente Snow (Donald Sutherland, ameaçador sem jamais precisar recorrer a maneirismos gratuitos).
E se vislumbres dessa guerra civil são vistos a todo instante, como ao nos depararmos com a protagonista caminhando entre os escombros do que fora o seu Distrito 12 natal, em uma cena que parece mais saída de O Pianista do que de outra produção com apelo jovem, é mesmo a política por trás da guerra o interesse principal da produção de Francis Lawrence. Percebendo a força que a propaganda exerce sobre a moral de um lado da guerra – e aí a lembrança de A Conquista da Honra vem a menta para confirmar isso -, ambos os lados não se inibem em manipular os eventos ao seu favor, percebendo que a batalha por vezes é decidida antes que as armas sejam erguidas. Mais que a guerreira do arco e flecha, então, Katniss aqui é O Tordo, o símbolo máximo da revolução comanda por Plutarch Heavensbee (o sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, que tem o filme dedicado a ele, morto esse ano) e pela Presidente Alma Coin (Julianne Moore, um acréscimo e tanto ao elenco de apoio da produção), líder do Distrito 13, que todos imaginavam extinto pela Capital, mas que planejava há tempos o contra-ataque decisivo. Já a Capital aproveita-se de Peeta Mellark (Josh Hutcherson), feito prisioneiro no fim do filme anterior para contra-atacar Katniss e tentar reestabelecer a ordem que, se não for seguida, resultará em mortes de ambos os lados.
A tensão então sai do campo de batalha que sediava os Jogos-título dos filmes anteriores e ocupa as transmissões de ambos os lados, que se tornam duelos de imagens e palavras em busca da coragem/medo conforme os interesses de cada lado. E se há motivos para a coragem, afinal os atos de crueldade da Capital são dignos dos vilões da trama, como explodir um hospital cheio de feridos, logo percebemos que o medo também é justificado já que não só Snow não se intimida na hora de comandar massacres televisionados, como os próprios rebeldes se tornam responsáveis por mortes do outro lado – e sabemos que matar não é justificável nem mesmo quando é proporcionada pelo “lado certo”.
E se no aspecto macro o filme é eficiente em seus temas, ao trazer o foco para o micro de cada personagem a coisa toda se torna ainda mais fascinante, não apenas ao abordar a excelente personagem de Lawrence, mas ao trazer Peeta sendo destruído psicologicamente a cada transmissão da Capital (e merece aplausos o desempenho de Hutcherson, que se torna o destaque maior dessa terceira parte ao trazer todo o sofrimento físico [sua perda gradativa de peso é notável] e psicológico [em dado momento sua expressão poderia ter saído de um filme sobre um prisioneiro da Guerra do Vietnã] de Peeta). E se a urgência – e sempre aplaudo a série por conseguir o que a maioria das superproduções tenta em vão, estabelecer a urgência de seus acontecimentos - da situação pode ser notada apenas através da sobriedade do ótimo Haymitch Abernathy, personagem de Woody Harrelson, que infelizmente recebe pouco destaque nessa parte da série, logo percebemos que mesmo os momentos de maior leveza estão fadados a se tornar emocionalmente dolorosos para aquelas figuras, seja através da melancólica “The Hanging Tree” que cantada em um momento raro de descanso por Katniss logo se torna um grito de guerra, seja através de Gale (Liam Hemsworth), que maior aprofundado em A Esperança – Parte 1 percebe a tristeza existente em um beijo da amada ao reconhecer que aquele ato é motivado pela expressão de sofrimento em seu rosto e não por um desejo da garota. E por falar nesse beijo, merece aplausos a decisão do roteiro (e, provavelmente, do livro de Collins) de pintar os dois pretendentes de Katniss como sujeitos honrados e cheios de qualidades, nos fazendo assim torcer por algo impossível: o romance da garota com apenas um deles (e aqui finalmente podemos antecipar o “escolhido”) sem que o outro saia com os sentimentos feridos.
Falhando em dado momento ao apostar em uma solução anticlimática para uma missão de resgate, A Esperança – Parte 1, no entanto, é corajoso ao abordar, ainda que rapidamente, a exploração sexual dos vencedores dos Jogos através da figura de Finnick (Sam Claflin) – mais um trauma que nos faz compreender o alcoolismo do personagem de Harrelson, já que aquelas figuras são obrigadas a passar, tão jovens por tantas coisas horríveis. Coragem, aliás, é algo que não falta para série, que se manter a escalada em sua qualidade irá nos brindar com o melhor filme no desfecho da saga. E para o nível que ela alcançou, isso é muito mais do que parece.
Eu percebi isto também. É exatamente nesta cena, Pedro.
Porraaaaaaa, chegue tarde. Já ia dizer que o Pedro tava era olhando outra coisa. HAHAHAHAHA droga!
Hahaha Chico perdeu essa :S
O Pedro vai acabar fazendo com que eu assista essa série com esses textos...