Lupas (330)
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Da falta de diálogos à economia de trilha sonora, Antonioni mergulha o espectador em um campo de silêncio, isolamento e desconhecimento de si mesmo. À medida que David Locke explora sua nova identidade e o modo de vida a ela forjado, perpassa também cenários lindos, mais movimentados ou essencialmente pacatos, que rendem enquadramentos comoventes e reforçam a dimensão da solidão. A cena final é uma obra de arte à parte.
Victor Tanaka | Em 06 de Julho de 2020. -
Mizoguchi equilibra dureza e poesia ao traçar os destinos e as mazelas de personagens atirados em cenários de guerra, fuga e solidão. A partir do momento em que eles partem de sua casa, deixando para trás um início tenso e sofrido, são sugados para uma camada mais lírica e sombria da narrativa, no qual os desencontros, a fantasmagoria e a ilusão colocam à prova sua ganância e seus vícios. Ao fim, temos como produto um filme belíssimo em forma - imagens tão lindas quanto desoladoras - e conteúdo.
Victor Tanaka | Em 01 de Junho de 2020. -
Mais divertido do que aparenta em seu início infantiloide, o filme ganha força com a dinâmica de casal bem acertada, movida pelo mote da garota-problema tão adotado nas comédias românticas das décadas seguintes. Dentro deste âmbito, ganham destaque algumas cenas mais longas, como a cena divertidíssima do casamento, e as alfinetadas políticas.
Victor Tanaka | Em 01 de Junho de 2020. -
A concepção estética é maravilhosa (o preto é usado com muito bom gosto, bem como o jogo de sombras onde se esconde o perigo) e a personagem passa por um processo psicológico muito interessante, certamente inovador para a época, que acompanha o aprofundamento das trevas na narrativa. Apesar disso, a sucessão rápida e óbvia dos acontecimentos, potencializada pelos diálogos fracos e redundantes, não me deixaram aproveitar ainda mais este exemplar de charme indiscutível.
Victor Tanaka | Em 01 de Junho de 2020. -
Desde o início, uma tensão e um ar de mistério nos levam à quase mística Fedora, cuja composição visual se torna rapidamente um símbolo tanto para os personagens quanto para nós, espectadores, ansiosos para descobrir o que esconde esta trama melodramática e por vezes novelesca. Infelizmente, ao mesmo tempo que o plot twist cumpre ser interessante, a forma usada para apresentá-lo mata o ritmo do filme, tornando a chuva de flashbacks cansativa, e o falatório, desnecessário.
Victor Tanaka | Em 27 de Maio de 2020. -
Seguindo tendências do cinema eslavo, esta narrativa força o traço de seus personagens para representar tipos sociais bem definidos e quase sempre planos, que acabam se tornando um microcosmo da sociedade e suas relações políticas. Dentro desse esquema, alguns personagens acabam se saindo mais ou menos bem dimensionados. Rufus protagoniza algumas das melhores cenas, em um papel duplo e mais profundo. O destaque fica para a cena final, uma das mais dolorosas que já vi sobre o tema.
Victor Tanaka | Em 27 de Maio de 2020. -
A narrativa é mal desenvolvida: as relações entre as protagonistas se tecem de forma toda errada e nem se permitem cultivar o espectador, inseridas em uma teia de acontecimentos que se atropelam, sob uma direção que não soube dosar o ritmo. A partir da metade, o foco passa do plano externo para seus efeitos no campo emocional e psicológico das personagens, dando margem para momentos apoteóticos de cafonice e tragédia às personagens. Bastante irregular, resguarda ainda um charme misterioso.
Victor Tanaka | Em 18 de Maio de 2020. -
Apesar da dureza do tema e da concretude que mantém os indivíduos preso às terras, socialmente falando, o filme empresta ao tema uma dimensão transcendental e metafórica, que dá origem a imagens belíssimas. A premissa é boa e profunda demais para uma duração tão curta. Assim, as fortes sequências (destaque para a cena da dança de Basil e para o funeral climático) saciam temporariamente o espectador, mas o produto final deixa a desejar, como se ainda faltasse algo.
Victor Tanaka | Em 18 de Maio de 2020. -
Um filme de guerra em que os tiros são o elemento que menos importa: em primeiro plano, temos o cruzamento do protagonista com um cenário devastador, que o atropela intransigente, sem que ele possa fazer nada. Assistimos, durante duas horas, destruição atrás de destruição, ao passo que as camadas psicológicas e a constituição física do indivíduo resistem até onde podem. O desfecho, tão forte quanto todo o resto, é um impotente grito de revolta.
Victor Tanaka | Em 12 de Maio de 2020. -
A fantasmagoria de Bergman se transfigura continuamente: começa incômoda, operando sobre o espectador pelo estranhamento social; adquire um tom de assédio psicológico, incidindo claustrofobicamente sobre os protagonistas e reconfigurando as subjetividades; por fim, assume o horror explícito, trazendo à luz imagens monstruosas. As muitas faces do amedrontador lembram muito O Farol, de Eggers, tanto no jogo de luz e sombras quanto na relação do individuo com o ambiente e na loucura sbsequente.
Victor Tanaka | Em 12 de Maio de 2020. -
Um dos filmes mais impressionantes que já vi em questão de identidade visual, qualidade cênica e música como ponto central de sua constituição estrutural e narrativa. Tomando como inspiração três contos do grande Hoffmann, os talentosos Powell e Pressburger criam um espetáculo operático de canto e dança ininterruptos, transpondo para as telas toda uma estrutura teatral e experimentando efeitos visuais charmosos, ângulos de câmera expressivos, jogos com espelhos e luzes etc.
Victor Tanaka | Em 28 de Abril de 2020. -
Por meio de relações familiares e seus desdobramentos, Kusturica consegue evidenciar aspectos da vida pública e privada da extinta Iugoslávia, entrelaçando vida cotidiana e conflitos políticos. Assim, o diretor equilibra lirismo, drama familiar do qual incidem brigas, tapas e gritos, humor e a esquisitice costumeira de seus personagens, que vivem intensamente sua humanidade e ostentam suas emoções mesmo quando o contexto social os faz se perguntarem "quem ama a quem neste hospício".
Victor Tanaka | Em 28 de Abril de 2020.