Considerado por muitos como a Obra Prima clássica dos westerns, confesso que este capítulo derradeiro da trilogia de Sergio Leone me desapontou perante o que fora mostrado no episódio anterior, sendo que este sofre uma grande perda de personalidade principalmente em relação ao seu protagonista. Ao assistir este aqui, minha expectativa era enorme em conferir o tão comentado talento e estilo de Leone em seu estado maior de aperfeiçoamento, e embora seja um filme grandioso e repleto de emocionantes momentos icônicos, Três Homens em Conflito merecia levar o nome de Eli Wallach como estrela do longa e não o de Clint, tendo em vista o total abandono criativo em relação aos personagens de Eastwood e Lee Van Cleff, que no filme antecessor brilharam juntos na tela em uma parceria realmente fantástica e explosiva e que aqui são reservados a pouquíssimos momentos de destaque (excetuando o magnífico duelo final).
Se Por Uns Dólares a Mais era mergulhado em um universo exuberante de duelos e conflitos, aqui a trama de Leone viaja muito mais do que deveria, avançando por temas como guerras civis e sub-tramas que não dão aquele mesmo brilho e força aos personagens, esquecendo-se principalmente do bang-bang em seu estado bruto, deixando a emoção rolar pra valer apenas em seu desfecho memorável, o que se mostra muito pouco para uma produção que fora taxado ao longo dos anos, como a referência deste gênero. O roteiro perde muito tempo em confusões e passagens em sua maioria desinteressantes, guardando poucos momentos divertidos e realmente emocionantes (característica que não faltava no capítulo II). Mas é inegável que este filme possua uma parcela gigantesca perante o cinema e ao faroeste, pois com seus elementos clássicos aprimorados pelo seu diretor, estilos de filmar, as características dos caubóis, de como conduzir um clímax, tudo fora refletido e reproduzido por muitas outras obras, embora seja realmente complicado copiar a genialidade de Leone.
Faltou mais do Bom e do Mal, faltaram mais duelos (ou até mesmo simples encontros), além do personagem Feio não possuir o mesmo carisma ou aquela sensação de perigo eminente que provinha do personagem Índio do longa anterior, sendo que mesmo assim Tuco rouba todas as atenções da trama para suas trapalhadas e sujeiras. Talvez o ápice do desperdício de Eastwood no filme pode ser encontrado no instante em que este passa praticamente uma eternidade caminhando no deserto, para depois ficar de cama doente, para só depois de muito enrolamento, voltar à ativa (e olha que este nem de longe lembra aquele velho Eastwood de Por Uns Dólares a Mais, totalmente perigoso e imprevisível, cheirando a anti-herói, ladeado por um carisma inigualável, mesmo abrindo a boca apenas para enfiar seu cigarro goela abaixo). Sem mencionar Lee Van Cleff, que deu show no longa anterior, aqui relegado como um simples coadjuvante que aparece em três ou quatro oportunidades.
Se Três Homens em Conflito é decepcionante quando retira seu foco em Eastwood e Van Cleff, em matéria de direção tudo parece estar em seus eixos, com Leone brindando seu fãs com belos momentos decisivos. A edição primorosa aqui utilizada aliada à estonteante trilha de Ennio Morricone, consegue aflorar no telespectador grandes momentos de energia e emoção, como as apresentações do trio no início do filme, e o magnífico duelo final dos mesmos, em um daqueles raros instantes que ficam registrados para sempre em sua mente e na história cinematográfica. Aquele suspense enlouquecedor, a tensão pairando no ar, os olhares e as mãos prontas para agir, a música imperando la fora e todos prontos para seu destino final, maravilhoso. Se o filme contasse só com um pouquinho da alma e da energia deste conflito, se beneficiaria muito mais, fora claro sua duração mais extensa que o filme anterior, o que deixou as coisas mais arrastadas e desinteressantes, aonde uma duração mais enxuta viria a calhar.
Excetuando detalhes, Três Homens em Conflito ainda contém uma grande parcela de ação, o que deixou a trama mais dinâmica, contando também com a participação de centenas de dublês que traz um elemento que talvez faltou em seu antecessor, embora este não esteja no mesmo nível de diversão e aproveitamento de seu irmão do meio. A meia hora derradeira compensa muita coisa, e a pessoa que estiver ali sentadinha assistindo apreensivo ao duelo do Bom, Mal e Feio, vai se surpreender com tamanho brilhantismo de um diretor inspirado e criativo. Esse final arrebatador é tudo que os fãs do western deseja ver, e que eu esperei tanto para acompanhar. Quando a bala é disparada, e o fôlego dispara, a emoção ecoa por toda a projeção, se fazendo mais forte e constante com o acompanhamento de um Morricone genial. Os melhores caçadores de recompensas que o cinema já viu.
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