Anti-herói, personagem que nos cinemas é sucesso garantido de público, talvez até mais que o mocinho da história. Afinal, quem não lembra de Tyler Durden retrato do anti-herói moderno em Clube da Luta? Anticapitalista, anticartão de crédito, anti tudo o que faz essa sociedade cada vez mais consumista. Tyler Durden é apenas mais um entre centenas que eu poderia citar, mas nenhum obteve tanto êxito como Travis Bickle em Taxi Driver.
Podemos assim dizer que Taxi Driver se trata de uma história baseada em fatos reais, já que o roteiro foi escrito pela visão de Paul Schrader daquele momento. Assim como Travis, Schrader estava passando por um momento bastante solitário, recentemente tinha se divorciado e se encontrava sozinho em um apartamento. Até então era crítico de Cinema e passava por um momento de transição de crítico para roteirista, talvez a solidão tenha o ajudado nessa fase. Escrever sobre a visão dele sobre aquele momento deve ter sido algo estupendo, o projeto de sua vida, mas faltava algo, quem irá por em prática algo tão pessoal? Entre indecisões, surge Martin Scorsese e seu filme Caminhos Perigosos ( Mean streets, 1973) jovem e em ascensão assim como o personagem do filme Robert De Niro, conquistando não só a Schrader, mas a todos os envolvidos, que eram a dupla ideal para tocar o projeto.
A trama se passa em Nova York, período pós Guerra do Vietña, cidade metropolitana em estado deplorável, prostituição, criminalidade em todas as esquinas da cidade. Tudo sobre a visão de Travis Bickle( Robert De Niro), jovem combatente do Vietña que sofre de insônia e busca um emprego como motorista de táxi pelo turno da noite. Nada melhor para retratar a solidão como um motorista de táxi que vaga pelas ruas sozinho, sendo os olhos e ouvidos da cidade. Travis tem uma vida tediosa dividindo entre cinemas pornôs e corridas de táxi, fazendo sempre a mesma coisa todos os dias. Sempre com a mesma visão de uma cidade imunda, que precisa de uma lavagem urgente.
Martin Scorsese soube muito bem definir o retrato da solidão de um taxista, em uma das corridas de táxi sem passageiros, Ele foca sua câmera no retrovisor e no fundo o banco de trás vazio, colocando assim o público na condição de passageiro e assim se revoltar como Travis ao ver toda aquela a podridão e adoecer junto com ele, sempre ao som da trilha sonora hipnotizante de Bernad Herrmannn. Essa identificação com anti-herói é bem difícil de acontecer só em casos raros como esse, por tratar de temas sociais fazem o público torcer e ficar do mesmo lado. Ainda mais por envolver o taxista como alusão a solidão, até pela quantidade de funcionários desse ramo, atingindo assim um sucesso antes inesperado de público e crítica.
O estopin que faltava para Travis explodir, foi quando seu caminho se cruza com Betsy ( Cybill Shepherd) e Iris ( Jodie Foster). Betsy é a mulher por quem se apaixona, na qual trabalha no comitê do senador Charles Palantine, principal desafeto de Travis. Após ser recusado por Betsy logo após a levar para ver um filme pornô, Travis, em uma de suas corridas de Táxi conhece Iris, jovem de apenas 12 anos que ao invés de estar estudando, vende seu corpo em troca de merrecas.
O ponto a ser discutido é a tentativa frustrada de assasinar Charles Palantine por Travis. Por questões de segundos mudou assim todo o contexto da obra, se ele tivesse assasinado o senador, seria pra sempre lembrado como um dos maiores vilões da história, como não foi concluída está ação ao salvar Iris do bordel no qual trabalhava e asssasinar os cafetões é transformado em herói, pela mesma sociedade que antes o condenava. O final chega a lembrar bastante o de Laranja Mecânica, onde o personagem de Alex DeLarge assasino psicopata, condenado pela sociedade, mas no fim a mesma sociedade o absorve e o ajuda a transformar em um ser bom.
Só para se ter uma idéia do impacto do filme nas ruas de Nova York, segundo David Pollack motorista de táxi nos anos 70 em uma entrevista encontrada nos Extras do Dvd, se ele não fosse durão teria sido devorado vivo, chegando até trabalhar armado devido a insegurança trazida dos passageiros. O que falar da atuação de Robert De Niro? Das maiores que o telespectador já presenciou, tudo fruto de uma determinação e força de vontade poucas vezes vistas, onde chegava a gravar durante a semana na Itália e no fim de semana dirigia taxi em Nova York em preparação para o filme. Vale destacar a interpretação da então jovem Jodie Foster, desempenhou muito bem o papel de prostituta apesar da pouca idade.
Portanto, Taxi Driver é muito mais que o retrato da solidão, é sobre as consequências desse mal, que por segundos deixou de ser vilão para ser herói de uma cidade totalmente alienada. No final das contas todos sabemos que dentro de nós temos um pouco de Travis, daquela revolta, dessa vez ele escapou, mas já tá pronto para explodir novamente.
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